terça-feira, novembro 20, 2012

Curtas & Grossas


1. Duarte Lima foi há dias formalmente acusado de ter burlado o BPN (Banco Português de Negócios) em cerca de 44 milhões de euros. Burla qualificada e branqueamento de capitais foram os crimes que lhe foram imputados. No maior desfalque de que há memória no nosso país, e cujo "buraco" tem vindo a ser tapado com o dinheiro dos portugueses, existem apenas dois lacraus que foram objecto da mão inquisitória da Justiça (Duarte Lima, ele próprio, e Oliveira e Costa). Referimo-nos, claro, aos cabeçilhas, àqueles que são mais conhecidos do público em geral. De qualquer modo, ficamos com a sensação de que foram apenas estes dois sujeitos os únicos responsáveis por tamanho roubo. De entre tantos milhões de milhões, há sempre alguém que escapa à Justiça e continua a viver como se nada se tivesse passado. Será que Duarte Lima, se for efectivamente condenado, vai ser obrigado a restituir o que roubou?

2. Cumpre-nos ainda registar aqui o lamentável incidente que representa a concessão da gestão do saneamento do concelho de Ourém a privados, o que na prática se traduz na criação de uma PPP (Parceria Público-Privada), justamente numa altura em que tanto se discute e critica esta opção política. A menos de um ano de terminar o mandato, vem agora a Câmara Municipal apressadamente transferir para o sector privado aquilo que deveria ser do domínio público. A experiência mostra-nos que ninguém pega num negócio se não for para dar lucro. E este - o do saneamento - promete dar muito e bom lucro. Resta saber a quem e a que preço...

Os sucessivos governos que fomos tendo ao longo dos últimos vinte anos endividaram brutalmente o país por várias gerações só à custa das PPP'S, mas a maioria da Câmara Municipal de Ourém parece que não aprendeu nada com isso, ou se calhar finge que não aprendeu. Tudo o que a Câmara argumenta a favor da sua nova PPP ainda está por provar e não é mais do que atirar areia para os olhos dos oureenses (nem sequer há consenso quanto à actual taxa de cobertura da rede de saneamento no concelho). Alguém conhece alguma PPP que tenha dado prejuízo para o concessionário (empresa privada) e lucro para o concedente (Estado)? Já alguém viu alguma PPP em que o Estado não tenha privatizado os lucros e nacionalizado os prejuízos? E por que razão em Ourém iria ser diferente?
Resta saber se o PS/Ourém já tem indícios de que está em fim de ciclo e esta seja, portanto, uma manobra para garantir o futuro de alguma gente. Uma espécie de "garantia real" para o caso de as autárquicas do próximo ano não lhe correrem de feição. E como quem negocia da parte do Estado acaba sempre por, mais tarde ou mais cedo, ir parar à PPP que negociou (lembram-se do Jorge Coelho? Do Ferreira do Amaral?), resta-nos aguardar pelas novidades que o futuro nos trará. E se alguns dos actuais dirigentes públicos locais (mas não só) começarem a evidenciar, ainda que envergonhadamente, alguns sinais exteriores de riqueza, então nessa altura far-se-á luz nas nossas cabeças...

PS.: Alguém nos pode explicar por que raio existem tantos políticos (ou ex-políticos) que, à margem das suas profissões habituais e, às vezes, até sem qualquer parentesco com elas, são sócios de empresas de construção, cujas sedes sociais dessas empresas coincidem normalmente com a morada da casa de família e cujo número de empregados declarados é quase sempre igual a 0?

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