quinta-feira, novembro 15, 2012

Combater o "banditismo de estado" é um imperativo moral do nosso tempo

Os portugueses habituaram-se com alguma facilidade a ouvir gente de alto gabarito dizer coisas patetas. Ainda não há muito tempo (em Setembro passado) a directora do DCIAP (Departamento Central de Investigação e Acção Penal), Cândida Almeida, dizia alto e bom som que os nossos políticos não são corruptos e que não havia corrupção em Portugal. Como é óbvio, salvo honrosas, sabemos todos, todavia, que aquela afirmação não corresponde à verdade e, por isso, não só é uma afirmação pateta como foi proferida, no mínimo, por uma pessoa igualmente pateta.
Felizmente que em Portugal ainda subsiste uma certa camada da sociedade que é honesta, algumas pessoas suficientemente decentes para trazerem à luz do dia alguns dos esquemas mais bafientos que se escondem na sombra do poder político e económico, e a máfia imoral que gravita à sua volta.
Paulo Morais, Professor Universitário, ex-vice-presidente da Câmara Municipal do Porto e vice-presidente da organização Transparência Internacional, num texto publicado no jornal Correio da Manhã online, fala-nos precisamente num destes exemplos, afirmando que «o ano de 2013 vai ser dramático no plano económico, haverá maior desemprego, fome e miséria. Mas, mesmo assim, irão derreter-se milhões nas campanhas eleitorais autárquicas». Disso nos dá conta o Jornal de Negócios, segundo o qual as eleições autárquicas de 2013 vão custar aos contribuintes qualquer coisa como 48,5 milhões de euros.
O problema é que, prossegue Paulo Morais na sua crónica, «nestas despesas não se poupa. O sistema de financiamento partidário tem muitos actores, vida própria e sustenta interesses poderosos. Os maiores beneficiados nem sequer são os candidatos. São, em primeiro lugar, os angariadores de fundos. Estes irão junto dos construtores, promotores imobiliários e, duma forma geral, dos maiores empresários de cada concelho; recolhem uns milhares e entregam uma parte aos partidos. Retêm cerca de quarenta por cento [há até quem afirme que esta "comissão" pode chegar aos 85%], o que é uma margem aliciante. O protótipo deste personagem é conhecido, tipo viscoso mas bem vestido que prolifera na política. Transporta milhares de euros em maços de notas, dentro de caras pastas de couro».
A imoralidade chega ao ponto de serem os próprios políticos que, em geral, «também não se queixam do sistema. Afinal, receber milhões em "cash" dá muito jeito. Não faltará dinheiro para as campanhas, poder-se-á pagar jantares a milhares de idosos devidamente angariados nos lares; as juventudes partidárias disporão de camionetas para transportar os rebanhos de apoiantes, não haverá restrições nas campanhas para presidentes de câmara».
Paulo Morais vai mais longe, e assegura que as «direcções nacionais dos partidos nada farão nem impedirão estas negociatas. Também elas se servem dos mesmos mecanismos. Quem transforma as suas sedes nacionais em autênticos "offshores", quem armazena milhões de euros em notas - não tem autoridade para moralizar as suas secções regionais e locais. Nem mesmo os financiadores querem mudar o sistema. São eles, aliás, os seus maiores beneficiários. Os que pagam são os que mais ganham, recebendo em favores do estado. Obras públicas serão pagas pelo dobro do seu valor, a gestão de água e saneamento será concessionada por rendas milionárias, projectos imobiliários irão ser ilegalmente aprovados, terrenos rurais serão reclassificados como urbanizáveis e gerarão margens de mil por cento. Os financiadores beneficiam dum retorno garantido e colossal». Finalmente, termina dizendo: «reféns destes mecanismos perversos de financiamento partidário, os autarcas estão a soldo de quem lhes paga as campanhas. E o poder local, uma vez corrompido, já deixou de ser democrático».
É, por isso, que combater o "banditismo de estado" se tornou numa emergência nacional e um imperativo moral do nosso tempo.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Custom Search
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...