segunda-feira, novembro 12, 2012

Francisco Louçã tem mais encanto na hora da despedida

Ao completar hoje 56 anos de vida, Francisco Louçã é uma daquelas pessoas de quem se gosta ou se odeia. Ao longo dos últimos treze anos não criou unanimismos em Portugal, mas também, diga-se em abono da verdade, nunca os procurou. Foi incisivo, sarcástico até, mas, na hora da despedida, viu da parte de alguns dos seus adversários políticos o reconhecimento do encanto da sua singularidade, com que se distinguiu na Assembleia da República, perdendo esta, «um dos deputados mais brilhantes que a nossa democracia conheceu», um homem «de uma inteligência provocadora e fulgurante, detentor de um verbo inisitadamente acutilante, sustentado numa cultura invulgarmente sólida».
E foi esse o traço distintivo que, na verdade, Francisco Louçã soube imprimir com astúcia na vida política portuguesa, quer primeiro enquanto homem ligado às ciências e à investigação, quer depois como líder do Bloco de Esquerda (BE). Goste-se ou não, ele foi um verdadeiro parlamentar, foi frontal e fiel às suas ideias e convicções, defendendo-as ao máximo que a sua  intransigência o poderia permitir, sabendo ser um maestro exímio da sua própria orquestra e defensor de uma linha ideológica em que sempre acreditou.
Não será certamente uma despedida, até porque o BE verá nele sempre a referência norteadora dos seus ideais políticos. E a figura de Francisco Louçã ficará gravada na memória dos "bloquistas" e do país como o homem que contribuiu para a afirmação de um partido da extrema-esquerda que, em apenas dez anos, passou de uma expressão eleitoral, em 1999, de apenas 2,44% (com dois deputados eleitos), para a quarta força política mais votada em 2009 (alcançando 9,82% dos votos e elegendo dezasseis deputados), sendo mesmo o partido que mais cresceu em termos percentuais - 3,47%.
Enquanto parlamentar, Francisco Louçã travou intensos debates com primeiros-ministros da esquerda e da direita democráticas, desde António Guterres a Durão Barroso, passando por Santana Lopes e José Sócrates, até Pedro Passos Coelho. Com todos eles exprimiu as suas vincadas ideias e convicções políticas, intercalando o brilhantismo e a fluidez dos seus discursos com alguma "ironia de estado".
Francisco Louçã e o Bloco de Esquerda não são de todo nem personificam à partida a melhor alternativa política que vislumbramos para o país. Muitas das suas convicções são antagónicas sobre a forma como encaramos o papel do Estado. Mas, tal não significa que, em relação ao líder que agora se afasta, não lhe reconheçamos a seriedade, a verticalidade e a coerência que um político deve ter no desempenho das suas funções (quantos políticos não apregoam falsamente estas qualidades?). Pela sua parte, Francisco Louçã teve-as e defendeu-as, sem qualquer sombra de dúvidas. Também por isso deve ser justamente recordado, e que a história lhe faça a devida homenagem.
Entretanto, na passagem do seu aniversário, endereçamos-lhe daqui os nossos mais sinceros parabéns e votos das maiores felicidades pessoais e profissionais.

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