quinta-feira, maio 15, 2014

As más-línguas

O texto que se segue foi publicado na Edição de 9 de Maio de 2014 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.

"Coluna do Meio
As más-línguas
Nos meses que se seguiram à realização das últimas eleições autárquicas, assistimos a uma pífia e insultuosa campanha de difamação contra o MOVE – Movimento Ourém Vivo e Empreendedor, campanha essa orquestrada por destacadas figuras do PSD/Ourém (mas não só) e que teve como principal objectivo a descredibilização, a desmoralização e o enxovalho político de todos os cidadãos e cidadãs livres do nosso concelho, que ousaram ter a coragem e a predisposição para engrossar as fileiras do MOVE. Eu próprio senti na pele os efeitos dessa triste e vil libertinagem, ao ser alvo de uma interpelação pública idiota e grosseira a escassas horas das eleições, e sem que me fosse dada sequer a oportunidade para exercer o meu direito de resposta, a qual visou unicamente denegrir a minha imagem política, numa derradeira tentativa de evitar o que acabaria afinal por acontecer, ou seja, uma surpreendente e maciça votação no MOVE. Ao olhar para trás, vejo um partido político afrontado com a horrenda possibilidade de continuar por mais quatro anos afastado do poder no concelho de Ourém, um PSD aflito e decrépito, dividido (senão mesmo tripartido), sem rumo, mesquinho, ressabiado e, acima de tudo, cínico e velhaco, tudo malformações congénitas que não abonam a favor de ninguém. Figura cimeira e destinatária principal dessa chacota política (e falo em chacota para não dizer actividade criminosa), foi o homem a quem devo muito daquilo que sou hoje em termos políticos, e que dá pelo nome de Vítor Frazão, o mesmo homem a quem foi vilipendiada a honra, o bom nome e a honestidade intelectual que o caracteriza. Como se em política valesse tudo e fosse possível dizer tudo e o seu contrário de uma assentada só…
Ora pois bem, Vítor Frazão foi e continua a ser o rosto do MOVE, razão pela qual todas as críticas, desde as mais injustas até às mais repugnantes, lhe têm sido dirigidas com especial “dedicação” e “ternura”. Uma dessas críticas – a todos os títulos infundada –, prende-se com a alegada falta de actividade política do MOVE logo a seguir às eleições. É por isso que, erradamente e em jeito de “Cantigas de Escárnio e Maldizer”, dizem as más-línguas que o MOVE se eclipsou e esboroou na espuma dos dias, o que não corresponde de todo à verdade. Por aqui se vê não só o calibre de certos adversários políticos do MOVE, mas também o que acontece quando ousamos enfrentar o “statu quo”, quando afrontamos a “normalidade” ou pomos em causa as lideranças dos partidos, ainda que acéfalas, retrógradas e autoritárias. Neste sentido, esta “Coluna do Meio” é hoje dedicada a todos aqueles que continuam a carpir sobre o leite derramado, a insistir na maledicência e a expiar os seus infectos pecados à custa da mentira e da calúnia que regurgitam sobre os outros. Se acaso não sabem ler, ou se nem sequer sabem interpretar um texto simples em português, aqui fica mais uma recomendação do MOVE apresentada na reunião de Câmara da passada terça-feira, dia 6 de Maio. Diz respeito à criação de um Gabinete de Apoio às Juntas de Freguesia, cujo enquadramento é o seguinte: a recente reorganização administrativa ditada pelo Governo PSD/CDS impôs a anexação de freguesias e exigiu não só a reformulação do trabalho, como também da coordenação entre o município e as juntas de freguesia. O MOVE defende que um dos objectivos da acção autárquica é valorizar e intensificar a colaboração entre as juntas e o município. Assim sendo, Vítor Frazão recomendou a criação de um Gabinete de Apoio às Juntas de Freguesia, o qual deverá 1) promover um acompanhamento tão próximo e consentâneo quanto possível, dando resposta às solicitações das juntas; 2) articular, eficazmente, os trabalhos a levar a efeito nas juntas de freguesia; e 3) satisfazer as exigências e preocupações dos presidentes de junta que, mais próximos dos munícipes, se debatem com falta de meios. Este Gabinete irá reforçar a acção do poder local, permitirá conjugar esforços e facilitar as tomadas de decisão, com benefícios acrescidos para os munícipes. Posto isto, é caso para perguntar: vós, as más-línguas, percebeis ou quereis que vos explique melhor?"

segunda-feira, maio 05, 2014

O 1º de Maio em menino

O texto que se segue foi publicado na Edição de 2 de Maio de 2014 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.

"Coluna do Meio
O 1º de Maio em menino
Ainda sob os auspícios da liberdade e da democracia restauradas no dia 25 de Abril de 1974, que puseram termo a um longo calvário de quarenta e oito anos de ditadura, o 1º de Maio, por sua vez, aparece-me na memória no dealbar da minha mocidade.
Eram os anos setenta do século passado, e era o tempo das manifestações, dos comícios e dos piqueniques nos pinhais, um tempo em que era para mim uma alegria poder rumar a Lisboa em “caravana” para fazer parte de todos aqueles acontecimentos. Lá no fundo, sabia que aqueles ajuntamentos ordeiros de pessoas, que gritavam palavras de ordem e agitavam bandeiras, estariam ali por algo, mas, confesso, nas primeiras “manif’s” de que tenho memória, ainda não me era completamente perceptível todo o seu significado.
Como disse há uma semana, cedo, porém, comecei a perceber que aquelas pessoas tinham de ter um motivo suficientemente forte para se deslocarem para uma manifestação, e esse motivo era a necessidade de celebrarem a liberdade, mas também para exigir mais democracia, mais igualdade e fraternidade entre todos os portugueses. Convém não esquecer que tínhamos deixado para trás quase meio século de ditadura e começávamos a dar os primeiros passos na consolidação do regime democrático, cujo processo de transição foi, como sabemos, extremamente difícil (lembremos, só a título de exemplo, o que ficou conhecido pelo “Verão Quente” de 1975 – o PREC ou Período Revolucionário em Curso –, os governos que duravam escassos meses e que se iam sucedendo uns aos outros ou as Forças Populares 25 de Abril).
Tanto agora como naquele tempo, as manifestações do 1º de Maio – o Dia do Trabalhador – transformam-se numa “jornada” de luta, em que as pessoas (trabalhadores e população em geral) saem para a rua para manifestar o seu descontentamento, não só em relação ao modo como o país é governado e de como isso as afecta, como também em relação às precárias condições económicas e sociais que o Estado lhes proporciona (como é o caso da reivindicação de melhores condições de trabalho). Foi assim nos primeiros anos a seguir ao 25 de Abril de 1974, e continua a ser assim, infelizmente, hoje em dia. E também parece certo que as motivações das pessoas, nas duas épocas, são semelhantes, senão as mesmas. 
Bem vistas as coisas, consigo ainda reter na memória aquele tempo em que era uma alegria para mim fazer parte de todas aquelas manifestações, comícios e piqueniques. Só que essas lembranças não são tanto sobre a diversão que estes momentos me proporcionavam, mas antes sobre as mensagens que eles me transmitiam. Como por exemplo, perceber não só que todos os manifestantes estavam ali na mesma “luta”, com a mesma camaradagem e objectivo, mas também que o que move as pessoas e as faz reivindicar o seu destino é intemporal e perpassa gerações. Certamente que, neste contexto, este 1º de Maio não será muito diferente dos 1ºs de Maio a que fui em menino".

quinta-feira, maio 01, 2014

A força da liberdade

O texto que se segue foi publicado na Edição de 25 de Abril de 2014 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.

"Coluna do Meio
A força da liberdade
Assinalamos hoje o quadragésimo aniversário da Revolução dos Cravos de 1974 e, à pergunta celebrizada por Batista Bastos “onde é que eu estava no 25 de Abril?”, terei forçosamente que responder: não sei!
Na verdade, sei que já estava neste mundo, tinha apenas dois anos e, muito provavelmente, encontrava-me no regaço protegido e aconchegante dos pais. Certamente alheio ao que se passaria à minha volta, não tenho nenhuma memória, com muito pena minha, daquilo que foram as primeiras horas ou a alvorada da liberdade em Portugal. Cedo, porém, comecei a ouvir e a perceber o que significava aquela palavra – liberdade –, mas também o que queria dizer democracia.
De facto, muito por força de ter crescido num ambiente onde eram constantes as reuniões e as discussões que os adultos mantinham sobre política, fui ouvindo as mais diversas histórias de como as pessoas viviam no tempo da ditadura. Ouvia que os nossos pais tinham experienciado o racionamento e as “bichas” para adquirir os alimentos (por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial), que a PIDE perseguia e prendia todos aqueles que se dispusessem ou tivessem a ousadia de dizer ou escrever o que pensavam (convém não esquecer que o concelho de Ourém era famoso nacionalmente por acolher “altas patentes” da PIDE, assim como outros tantos “bufos” ou “informadores”, e de ser palco, inclusivamente, de reuniões ao mais alto nível governamental, que decorriam na casa de uma importante família oureense, e que ainda hoje existe em frente ao antigo hospital), e ouvia também que a esmagadora maioria da população portuguesa não tinha acesso aos cuidados mais básicos, de saúde, educação, protecção social, e que nem o próprio Estado lhes garantia direitos fundamentais, como a liberdade de expressão, a participação democrática ou o exercício pleno da cidadania.
Triste vida a deles, pensava eu, na minha inocência. Hoje sei, porém, que o seu esforço e as privações por que foram obrigados a passar constituem a liberdade que nós hoje temos, e da qual nos devemos orgulhar. E, para isso, temos também que dignificar os capitães e os valores de Abril, temos de compreender a razão por que ele existiu, qual o seu significado e a importância que teve (e continua a ter) para todos os portugueses. O que não devemos dizer é coisas patetas, do género daquelas que a presidente da Assembleia da República já nos habituou, como aquela que afirmou recentemente a propósito da ausência dos militares de Abril nas cerimónias oficiais na Assembleia da República, dizendo que isso era “um problema deles”! Não sei, mas algo nesta senhora não bate certo, e faz-me lembrar o meu já saudoso tempo de menino.
Finalmente, por falar em homenagem e reconhecimento pelos quarenta anos do 25 de Abril, vale a pena recordar aqui as celebrações dos cinquenta anos da criação da freguesia de Casal dos Bernardos (cujo decreto de criação é o 45.669, de 18 de Abril de 1964), cerimónia que decorreu no passado fim-de-semana e na qual foram homenageados os presidentes da Câmara Municipal da era pós 25 de Abril, assim como os presidentes da junta de Casal dos Bernardos. Nem a propósito, facto emblemático foi a entrega da distinção feita ao Dr. Vítor Frazão ter saído das mãos do Sr. Domingos Gonçalves, representante da Assembleia de Freguesia da União das Freguesias de Rio de Couros e Casal dos Bernardos, eleito nas listas do MOVE nas últimas eleições.
Em tempo de homenagens e celebrações, resta-me desejar aos estimados leitores um feliz 25 de Abril, e uma renovada esperança na força da liberdade".
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