domingo, dezembro 23, 2012

Boas Festas e Feliz Ano Novo

Aqui ficam os votos de  Boas Festas e que o próximo ano seja mais próspero e solidário. Um Natal feliz para todos.


sexta-feira, dezembro 14, 2012

Vítor Frazão é candidato à Câmara Municipal de Ourém

A apresentação da candidatura independente do Dr. Vítor Frazão à Câmara Municipal de Ourém nas próximas eleições autárquicas de 2013, dada a conhecer publicamente na passada terça-feira, promete trazer uma lufada de ar fresco ao ambiente político oureense, para além de constituir uma alternativa, certamente credível, à actual gestão socialista. 
Resta saber se Vítor Frazão obterá o apoio expresso do seu partido ou terá de se defrontar com o actual presidente da Comissão Política concelhia, Luís Albuquerque.
A bem do concelho de Ourém, seria desejável que Luís Albuquerque refreasse neste momento algum ímpeto eleitoral que possa ter, declarasse publicamente não só o seu apoio como o do PSD à candidatura de Vítor Frazão e caminhassem lado a lado em direcção às autárquicas, nesta que é uma urgente cruzada para dar finalmente a seriedade e a credibilidade políticas que o concelho de Ourém merece, e para colocar plenamente a Câmara Municipal de Ourém não ao serviço de alguns interesses particulares e difusos, mas verdadeiramente ao serviço dos legítimos interesses e expectativas dos oureenses.
Segundo o jornal "Notícias de Ourém", são dez as razões que Vítor Frazão invoca para avançar com a sua candidatura:
  1. Motivação e empenho para continuar a trabalhar pelo desenvolvimento do concelho que já serve há mais de 25 anos, mantendo-se atento aos problemas dos oureenses e contribuindo para a resolução das suas necessidades;
  2. Trabalhar e dignificar o município e os munícipes, e não para se elevar pessoal e socialmente, ou para almejar emprego;
  3. Responder ao apelo solidário de muitos militantes do PSD, de inúmeros oureenses anónimos, de responsáveis de múltiplos sectores da sociedade e porque quer também dar uma resposta positiva ao encorajamento vindo de simpatizantes de outros quadrantes políticos do concelho de Ourém;
  4. Vontade de, com a sua experiência profissional, cívica e autárquica, dignificar a autarquia, os titulares dos seus cargos e, também, os seus funcionários;
  5. Garantir que não serão desrespeitadas as oposições na Câmara e evitar as quezílias que só prejudicam a gestão e a imagem dos oureenses, e, ao invés, para além de ouvidas, serem aproveitadas todas as suas propostas e sugestões que, de forma sustentada, visem o interesse e o desenvolvimento para o concelho;
  6. Reanalisar eventuais parcerias público-privadas (PPP) existentes ou futuras, que claramente estejam ou possam vir a prejudicar os oureenses;
  7. Dinamizar todos os serviços camarários e maximizá-los em profunda articulação com as Juntas de Freguesia, para que estas possam continuar próximas dos eleitores, apresentando as suas reivindicações e solucionando as suas necessidades;
  8. Optimizar os seus conhecimentos, princípios e ideais, contribuindo para uma gestão autárquica equilibrada, eficaz, sustentável e com respeito e consideração por todos os oureenses;
  9. Influenciar todos os órgãos do poder central, conseguindo o maior apoio financeiro possível para todas as actividades do tecido económico oureense; e
  10. Tudo fazer por um serviço de saúde condigno para os oureenses, evitando a dança entre os hospitais e, nomeadamente, defender até à exaustão a utilização dos hospitais Leiria-Coimbra.

terça-feira, dezembro 11, 2012

Pale blue dot

Este post é dedicado a todas aquelas pessoas egocêntricas, que acreditam que são o centro do mundo e que tudo o resto gira à sua volta. Mas, também é dedicado a todos aqueles pobres de espírito, cuja única preocupação nesta breve passagem pela vida é dedicarem-se a tramar os outros, a acharem-se os melhores dos melhores e a cuspirem no prato onde irremediavelmente um dia ainda vão comer. A todos esses, com telhados de vidro, fica a certeza, porém, de que são apenas pálidos pontos negros perdidos algures no universo.

sexta-feira, dezembro 07, 2012

A ironia da arrogância

Há cerca de duas semanas atrás, alguns autores deste Blog puderam assistir a um filme deprimente e deplorável sobre aquilo em que se pode transformar uma relação laboral, que se deve basear, como todos sabem (ou deviam saber), no respeito, na confiança, na verdade, na boa-fé e na moralidade.
Pese embora o facto de, pelo lado do trabalhador, estas terem sido as características adoptadas desde o início, o mesmo não foi acatado pela entidade empregadora, que sempre agiu com má-fé, com reserva mental, com cinismo, com hipocrisia e imoralidade e com uma tremenda ironia da arrogância, que tornou a relação laboral num longo calvário de quase cinco meses e num exercício de mentiras e de chantagem psicológica.
O mais absurdo, porém, é termos constatado que esta história - repleta de personagens balofas, sinistras e dúbias -, teve, de uma certa forma, a complacência da Justiça Portuguesa.
É como se a própria Justiça pusesse o seu enorme chapéu protector ao serviço de uma economia clandestina ou subterrânea, de uma casta onde proliferam trocas de favores, interesses difusos e amizades de circunstância.
Sabemos hoje - e essa terá sido a lição mais importante que aprendemos -, que algumas amizades, por mais verdadeiras que possam parecer, não passam de um embuste enganador à espera da primeira oportunidade de traição e vingança.
Há pessoas que assentam as suas ideias mesquinhas muito para lá da noção de uma amizade sã e mutuamente enriquecedora.
Estas personagens são, de qualquer modo, meros arremedos da sofisticaçãoSão como aqueles embrulhos de Natal, todos bonitos por fora, mas por dentro sem qualquer conteúdo digno que valha a pena conhecer.
Este triste filme mostra também à saciedade o quanto ainda temos de aprender em termos de princípios e valores morais.
A falta de ética e a persistente tentativa destas personagens quererem parecer o que não são, reflecte-se no modo abjecto com que encaram a vida profissional e em sociedade.
A sua falta de princípios, de "berço" e de educação são algumas das causas que fazem emergir estas personagens do lodo moral em que estão atoladas. Mas, não são as únicas causas.
Há também uma incapacidade genética ou natural para distinguir entre o bem e o mal. E se perguntadas se juram dizer a verdade, estas personagens não hesitam em mentir descaradamente diante da vetusta autoridade da Justiça podre deste país, pela simples razão de que acreditam cegamente que se disserem mil vezes uma falácia ela se transformará numa verdade absoluta.
É esse o seu reles modus operandi e o seu fraco estilo de vida.
E por acharem que são o centro do universo e que tudo o resto gira à sua volta, sob as suas ordens e comandos, tornam-se ridículas e de fraca índole.
A vaidade nunca foi boa conselheira, nem a arrogância ou a ganância.
Estas personagens são, por isso mesmo, o reverso de uma realidade bem diferente. É como se existisse a boa e a má moeda, ou como se existisse um espelho que reflecte duas realidades totalmente opostas.
Neste caso, compete a cada um de nós escolher o lado no qual se quer posicionar e orientar a sua vida.
É claro que não é indiferente optar por um lado ou por outro, optar entre a defesa de valores ou a recusa deles. A escolha que fazemos será, pois, determinante para caracterizar a nossa personalidade, e dessa escolha sairá a diferença entre pessoas honestas, sinceras e leais e aqueles maltrapilhos quaisquer que gerem a sua vida maliciosa ao sabor das conveniências, deambulando sorrateiramente no soturno mundo do crime do colarinho perfeitamente branco e engomado, onde usam expedientes sem escrúpulos para atingir os seus fins, mas que, em todo o caso, não os deixam de reconduzir à sua mais estéril e vil insignificância.
Estas infelizes criaturas acabam, um dia, por dar-se conta de que afinal estão sozinhas no mundo, acabam por perceber que mesmo aqueles de quem julgavam obediência e reverência são afinal iguais a si e regem-se pela mesma cartilha, a tal ponto que, fartos, lhes dão um chuto no traseiro e as abandonam à sua triste sorte.
No fim de contas, tudo se passará como na história do "Burro": havia um burro que ficava sempre muito feliz quando o seu dono o albardava com elegantes enfeites para ir desfilar na festa da aldeia. Esse dia, era o mais animado para o burro, porque tinha a oportunidade de brilhar como uma estrela. Porém, à medida que a festa se ia aproximando do fim, a tristeza começava a apoderar-se do burro, já que era sinal que tinha de voltar para casa. Acabada a festa, lá iam o burro e o seu dono a pensar no lindo dia que haviam passado juntos. Mas, o momento mais cruel era quando o dono tirava a albarda e os enfeites ao burro. Quando o burro se via ao espelho, descobria que, apesar de durante o dia não o parecer, continuava a ser um grande burro.

quarta-feira, dezembro 05, 2012

Ainda a Carta Aberta dirigida ao primeiro-ministro

Carta Aberta endereçada a semana passada ao primeiro-ministro, que teve como subscritores Mário Soares e um vasto conjunto de personalidades da sociedade civil, que foi amplamente divulgada pelos órgãos de informação nacionais e que causou uma onda de indignação junto do PSD e do Governo (a que se juntou agora a JSD), mais não é do que um conjunto de constatações óbvias e legítimas acerca do estado deplorável a que o país chegou.
Na verdade, quando se afirma que o manifesto enviado para São Bento, com cópia de conhecimento para Belém, é um ultimato ao Governo exigindo a sua demissão, seria bom que os defensores deste ponto de vista atentassem no que se escreve no documento: "[...] Perante estes factos, os signatários interpretam - e justamente - o crescente clamor que contra o Governo se ergue, como uma exigência, para que o Senhor Primeiro-Ministro altere, urgentemente, as opções políticas que vem seguindo, sob pena de, pelo interesse nacional, ser seu dever retirar as consequências políticas que se impõem, apresentando a demissão ao Senhor Presidente da República, poupando assim o País e os Portugueses ainda a mais graves e imprevisíveis consequências. É indispensável mudar de política para que os Portugueses retomem confiança e esperança no futuro" (negrito e sublinhado nossos).
Claro que existem sempre maneiras diferentes de ver as coisas, de interpretar a realidade e de nos posicionarmos diante dos factos que as evidências nos trazem à luz do dia. Seria mais fácil escondermos a cabeça na areia e fazermos de conta de que está tudo bem. Mal vai este país, e de mal a pior, se já não podemos sequer manifestar a nossa opinião e, quando a expressamos, sermos apelidados de "demagogos baratos".
O que esta Carta Aberta representa é um apelo veemente de um conjunto de cidadãos para que o Governo acorde e reveja as suas opções políticas para o país.
Já não é só a insensibilidade social que graça neste Governo que está a destruir o país: é a visão, ou melhor a falta dela, que está a conduzir Portugal para o abismo.
É por isso que todo e qualquer cidadão, independentemente do seu passado ou das suas opções ideológicas, tem não só o direito mas acima de tudo o dever de alertar para o perigo em que nos estão a meter.
E se se continuar a persistir nos erros e a impor aos portugueses sacrifícios a tal ponto insustentáveis que, em vez de resolverem os nossos problemas, os agravem e nos conduzam a uma situação de não retorno, então nessa altura de que valerá exigirmos a demissão do Governo se somos nós próprios que já não existimos enquanto sociedade e como país?  

sábado, dezembro 01, 2012


Dia Mundial da Luta Contra a Sida.
Último feriado nacional comemorativo da Restauração da Independência na Era Passos Coelho. Agora sim, com mais tempo para trabalhar, o país vai renascer das cinzas e voltar a brilhar. 

sexta-feira, novembro 30, 2012

Já só falta 0,1% para se confirmarem as previsões da Comissão Europeia, mas já para 2012

No início deste mês, a Comissão Europeia previa que o desemprego atingisse em Portugal uma taxa recorde de 16,4% no próximo ano.

Hoje, é o Eurostat a dar-nos conta de que a taxa de desemprego subiu em Outubro para os 16,3%, o que representa um aumento de 2,6% em relação ao período homólogo do ano anterior (Outubro de 2011).

Ainda segundo o gabinete de estatísticas europeu, Portugal encontra-se "no grupo de países com as maiores subidas no desemprego em relação a 2011, acompanhando a Grécia, Espanha e Chipre". Estes dados confirmam aquilo que o primeiro-ministro afirmou esta semana na entrevista que deu à TVI, ou seja, que a taxa de desemprego em Portugal era a quarta maior da União Europeia, apenas precedido pela Grécia, Espanha e Irlanda.

Partindo do princípio de que os piores cenários macroeconómicos apontados como mais prováveis para 2013 se confirmam, o próximo ano será, nestas circunstâncias, tanto a nível nacional como europeu, um ano repleto de surpresas, mas, pelas piores razões, a tal ponto que seria desejável que não nos restasse outra alternativa senão pensarmos de uma vez por todas sobre qual o modelo político, económico e social que queremos seriamente adoptar para Portugal, nunca perdendo de vista o futuro que se antevê cada vez mais próximo e urgente. Há até já quem diga que é a própria democracia que está em causa. O tempo o dirá. De qualquer modo, o bom-senso aconselha-nos a ser prudentes e inteligentes, e a não adiar aquilo que já não pode mais ser adiado.

Greve dos estivadores


Há uma linha que separa a dignidade de um português que sobrevive neste país com uma pensão de duzentos e poucos euros por mês, e aqueles que levam para casa mais de cinco mil euros. Por isso, já vai sendo tempo de o governo ter mão pesada para controlar esta acção criminosa que já lesou o país numas largas dezenas de milhões de euros.

Não podemos continuar a ser fortes com os fracos e fracos com os fortes. Não deve haver qualquer corporação no nosso país que possa sobrepor-se ao interesse nacional, nem fazer de conta que a miséria e a pobreza não atinge um número cada vez maior de pessoas em Portugal.

sexta-feira, novembro 23, 2012

O sorriso das vacas

Declarações do Presidente da República, Cavaco Silva, ontem na entrega dos Prémios Gazeta (Jornalismo):
  1. "Todos sabem que o silêncio do Presidente da República é de ouro, hoje a cotação do ouro foi 1.730 dólares por onça, uma onça são 31 gramas, mais 1,7% do que a cotação do ouro naquele dia de Setembro em que a generalidade dos portugueses ficou a saber o significado da conjugação de três letras do alfabeto português: «tê, ésse, u (TSU)»".
  2. "Até aqui, boa parte dos portugueses pensava que o Presidente da República estava a meditar, a reflectir sobre a próxima visita a Portugal da senhora já bem conhecida de todos, amada por muitos, a que carinhosamente os portugueses chamam de troika, outros estariam a pensar que o Presidente da República estava a reflectir sobre se o aumento de impostos era enorme ou gigantesco, outros pensariam que o Presidente da República estava a reflectir sobre os novos apoios que a chanceler Merkel podia trazer para portugal na sua próxima visita ao país e outros poderiam estar a pensar que o Presidente da República estava a reflectir sobre o que fazer relativamente às pressões de vinte corporações e mais de cem individualidades para que ele enviasse o Orçamento do Estado para o Tribunal Constitucional".
  3. "Outros estariam a pensar que o Presidente estaria a reflectir sobre o consenso político que foi possível estabelecer entre as forças políticas do arco da governação sobre a forma de realizar a reforma das funções do Estado, outros podiam estar ainda a pensar que o Presidente estava a reflectir sobre se a transmissão televisiva dos jogos de futebol em canal aberto fazia ou não parte da definição de serviço público de televisão, mas agora, depois de ter quebrado o meu silêncio, os portugueses dirão que afinal ele estava apenas a reflectir sobre a forma de evitar a sua presença na cerimónia de atribuição dos prémios Gazeta do Clube de Jornalistas".
  4. "Fazer votos para que continuem a apostar na qualidade, felicitar Fialho de Oliveira pelo prémio de mérito que acabou de receber, o Clube de Jornalistas por conseguir resistir à crise e ainda não ter ido à falência, o que com certeza se deve à capacidade de gestão de Mário Zambujal, e esperar que a Caixa Geral de Depósitos nos ofereça um jantar que seja condizente com os tempos que vivemos e eu não possa ser acusado de estar aqui por uma qualquer guloseima".
  5. "Se forem inquiridos digam que eu estive aqui mas não disse absolutamente nada, e que eu me comprometo a não colocar qualquer «post» sobre o assunto na minha página do Facebook, deixo, por isso, antecipadamente o meu muito obrigado a todos".
O país merece melhor sorte do que ter apenas um Presidente da República insípido que faz este tipo de declarações lamentáveis. Para quem se remete ao silêncio quando o país mais precisa dele, Cavaco Silva - esse génio das banalidades - parece andar a gozar com o pagode e mais valia estar calado. Se não queria falar, não falava. Agora, abrir a boca para proferir tantos disparates e ainda por cima ironizar com "se forem inquiridos digam que eu estive aqui mas não disse absolutamente nada", ficou-lhe muito mal e não é digno de um Chefe de Estado.
Certamente que o seu próximo tema de reflexão será como dar a volta à sua extensa colecção de presépios para eliminar as figurinhas dos burros e das vacas que tanto pastam no Palácio de Belém. E tem de ter tudo preparado quando chegar o Natal, não vão os santos zangarem-se e obrigarem-no a comer Bolo Rei o resto do mandato, ou a ir para os Açores reparar no sorriso das vacas, as quais, quando chove, ficam satisfeitíssimas a olhar para o pasto, verificando que ele começa a ficar mais verdejante. É caso para dizer que há uma pequena linha que separa Cavaco Silva e o mundo das vacas, e que se vai tornando cada vez mais ténue.

Eles tiram-nos tudo e não nos deixam nada

Já não bastava o governo reduzir os nossos salários, aumentar enormemente os impostos, tirar-nos a auto-estima e a esperança, despedaçar-nos o coração e remeter-nos à nossa miserável condição de pobreza e miséria, e vem agora o Papa dizer que o nosso Presépio não tem burro nem vaca e que o menino Jesus não nasceu no dia 25 de Dezembro. Ora bolas, eles andam todos loucos e querem-nos tirar tudo e não nos deixar nada. Mas, por que razão não há-de haver uma vaca e um burro no Presépio? Por que nos andaram a enganar estes anos todos? E agora, o que dizer no próximo Natal aos meninos e meninas deste mundo quando eles forem enfeitar os seus Presépios e lhes disserem que têm de guardar a vaquinha e o burrinho porque eles já não fazem parte do imaginário do Natal? Já só falta dizerem-nos que o Pai Natal também não existe. Se Jesus não nasceu a 25 de Dezembro, quando vamos celebrar agora o Natal? Será que o Vaticano vai prescindir do feriado e vamos todos ter que trabalhar nesse dia?
Estamos completamente desiludidos com tudo isto. Já não acreditamos em nada. Só esperamos que não nos venham dizer à própria da hora que o Presépio também não tem ovelhas, o pastor, as galinhas, o moinho e o castelo, os Reis Magos, a fonte, a árvore com os passarinhos... E andou a família Cavaco Silva a coleccionar Presépios para quê? E o nosso, o que vamos fazer com ele? Mandá-lo para São Bento ou para Belém?

quinta-feira, novembro 22, 2012

Gina #3 - Bacalhau com todos


"Estalou o verniz", foi assim que o PSD/Ourém começou o seu comunicado à imprensa sobre os acontecimentos que marcaram a última reunião de Câmara, que teve lugar esta terça-feira.
Parece que, na dita reunião, o vereador do PSD, Luís Albuquerque, interpelou os socialistas no sentido de saber qual o motivo por que a redução do número de funcionários da autarquia e empresas municipais não se traduz numa efectiva redução dos custos com o pessoal.
A controvérsia surgiu após a maioria socialista ter apresentado o "Balanço do número de trabalhadores do Município de Ourém e empresas municipais entre 2009 e 2012", segundo o qual houve, no período compreendido entre Novembro de 2009 e Novembro de 2012, não só uma redução de 68 trabalhadores, como ainda a autarquia poupou 3.931,28 Euros em salários do sector empresarial local.
Ora, Paulo Fonseca não gostou do tom inquisitório da oposição, pondo em causa os números apresentados com pompa e circunstância pela Câmara, e lá deixou escapar um: "Estou farto desta merda"! O que fez com que Luís Albuquerque abandonasse a reunião solene, seguido da vereadora Agripina Vieira (PSD).
A utilização de uma linguagem vernácula e o stress político do presidente, não são, aliás, inéditos nas reuniões magnas do Município. Por exemplo, há cerca de dois anos, em plena reunião da Assembleia Municipal, houve uma troca de mimos entre o presidente da Câmara e o deputado municipal João Moura, tendo este acusado os socialistas de estarem a viver (na altura) a sua terceira fase, a das "trapalhadas", posto que já haviam passado pelas fases do "estado de graça" (a primeira) e do "vazio de ideias e de conteúdos" (a segunda). O presidente retorquiu, chamando mentiroso a João Moura (ver a história aqui). Este episódio valeu da parte de alguns cronistas fortes críticas, de que esta é apenas um dos exemplos.
Entretanto - ao que julgamos inserir-se também no contexto da última reunião da Câmara -, o vereador Vítor Frazão (PSD), angustiado com todo o cenário gerado, acabou por desabafar em tom lacónico: "Estou fornicado com toda esta situação".
Mais palavras para quê? Só se for para dizer que este "filme pornográfico" de quinta categoria é uma boa "merda".

terça-feira, novembro 20, 2012

Curtas & Grossas


1. Duarte Lima foi há dias formalmente acusado de ter burlado o BPN (Banco Português de Negócios) em cerca de 44 milhões de euros. Burla qualificada e branqueamento de capitais foram os crimes que lhe foram imputados. No maior desfalque de que há memória no nosso país, e cujo "buraco" tem vindo a ser tapado com o dinheiro dos portugueses, existem apenas dois lacraus que foram objecto da mão inquisitória da Justiça (Duarte Lima, ele próprio, e Oliveira e Costa). Referimo-nos, claro, aos cabeçilhas, àqueles que são mais conhecidos do público em geral. De qualquer modo, ficamos com a sensação de que foram apenas estes dois sujeitos os únicos responsáveis por tamanho roubo. De entre tantos milhões de milhões, há sempre alguém que escapa à Justiça e continua a viver como se nada se tivesse passado. Será que Duarte Lima, se for efectivamente condenado, vai ser obrigado a restituir o que roubou?

2. Cumpre-nos ainda registar aqui o lamentável incidente que representa a concessão da gestão do saneamento do concelho de Ourém a privados, o que na prática se traduz na criação de uma PPP (Parceria Público-Privada), justamente numa altura em que tanto se discute e critica esta opção política. A menos de um ano de terminar o mandato, vem agora a Câmara Municipal apressadamente transferir para o sector privado aquilo que deveria ser do domínio público. A experiência mostra-nos que ninguém pega num negócio se não for para dar lucro. E este - o do saneamento - promete dar muito e bom lucro. Resta saber a quem e a que preço...

Os sucessivos governos que fomos tendo ao longo dos últimos vinte anos endividaram brutalmente o país por várias gerações só à custa das PPP'S, mas a maioria da Câmara Municipal de Ourém parece que não aprendeu nada com isso, ou se calhar finge que não aprendeu. Tudo o que a Câmara argumenta a favor da sua nova PPP ainda está por provar e não é mais do que atirar areia para os olhos dos oureenses (nem sequer há consenso quanto à actual taxa de cobertura da rede de saneamento no concelho). Alguém conhece alguma PPP que tenha dado prejuízo para o concessionário (empresa privada) e lucro para o concedente (Estado)? Já alguém viu alguma PPP em que o Estado não tenha privatizado os lucros e nacionalizado os prejuízos? E por que razão em Ourém iria ser diferente?
Resta saber se o PS/Ourém já tem indícios de que está em fim de ciclo e esta seja, portanto, uma manobra para garantir o futuro de alguma gente. Uma espécie de "garantia real" para o caso de as autárquicas do próximo ano não lhe correrem de feição. E como quem negocia da parte do Estado acaba sempre por, mais tarde ou mais cedo, ir parar à PPP que negociou (lembram-se do Jorge Coelho? Do Ferreira do Amaral?), resta-nos aguardar pelas novidades que o futuro nos trará. E se alguns dos actuais dirigentes públicos locais (mas não só) começarem a evidenciar, ainda que envergonhadamente, alguns sinais exteriores de riqueza, então nessa altura far-se-á luz nas nossas cabeças...

PS.: Alguém nos pode explicar por que raio existem tantos políticos (ou ex-políticos) que, à margem das suas profissões habituais e, às vezes, até sem qualquer parentesco com elas, são sócios de empresas de construção, cujas sedes sociais dessas empresas coincidem normalmente com a morada da casa de família e cujo número de empregados declarados é quase sempre igual a 0?

domingo, novembro 18, 2012

Clara Ferreira Alves - Estado de guerra

"Estado de Guerra" é o mais recente livro de Clara Ferreira Alves, uma das co-apresentadoras do programa televisivo da SIC Notícias de Sábado à noite "Eixo do Mal" e autora da crónica semanal do jornal "Expresso" intitulada "Pluma Caprichosa". Este livro traça uma imagem fiel do estado a que Portugal chegou, fazendo ainda uma incursão crítica sobre o que se passa actualmente noutras regiões do mundo.

Pode ler-se a dado passo que "nós, e quando digo nós digo o jornalismo na sua decadência e euforia suicidária, criámos estas criaturas. Os Relvas, Os Seguros, os Passos Coelhos, os amigos deles. O jornalismo, aterrorizado com a ideia de que a cultura é pesada e de que o mundo tem de ser breve, nivelou a inteligência e a memória pelo mais baixo denominador comum, na esteira das televisões generalistas". 
"Como toda a gente sabe, em vendo opiniões. Uma coluna pode contar uma história, ou fazer literatura, ou matraquear uma crítica ou sugestionar um leitor. Certo, mas, de vez em quando, lá vem a opinião. A pedofilia, o governo, a guerra, o Médio Oriente, a esquerda, a direita, o partido, o espatifado, o frango, a tragédia. E o colunista, devidamente sentado na cadeira autoral, tem-nas. Se tem, e se foram boas, alguém dirá dele, ou dela, que tinha uma «lucidez implacável». E isto, caros amigos, é do melhorzinho que se pode dizer de um sujeito, ou sujeita, que vende opiniões [...]. Todas as vidas viram coisas inacreditáveis. Se não fôssemos humanos com memória tudo se perderia. Como lágrimas à chuva".
É certamente um livro a não perder, e que pode ser adquirido aqui.

sábado, novembro 17, 2012

Câmara de Ourém já fez 58 ajustes directos a empresas de eleito do PS e de filho deste

Uma das promessas eleitorais do PS/Ourém nas eleições autárquicas de 2009 traduziu-se na afirmação de que, uma vez conquistada a Câmara - como de facto veio a acontecer -, o Partido Socialista iria privilegiar as empresas do concelho de Ourém na contratação de bens e serviços. Era uma forma de apoiar e dinamizar o tecido empresarial local, o que, diga-se em abono da verdade, não tem nada de negativo, antes pelo contrário. Por que carga de água estaria a Câmara a "dar" o dinheiro às empresas fora do concelho se o poderia "dar" às da terra? Esta espécie de "discriminação positiva" foi bem acolhida pelos empresários, que logo vislumbraram grandes janelas de oportunidade, tendo a Câmara honrado o seu compromisso eleitoral ao longo destes três anos de gestão autárquica socialista.
Acontece que, quando a esmola é muita o santo desconfia, e se é verdade que o Partido Socialista levou a peito a promessa eleitoral que fez em 2009, não menos verdade é o facto de que tem havido por parte da Câmara Municipal de Ourém um certo excesso de zelo na atribuição sistemática de obras e aquisição de materiais de construção a duas empresas específicas do concelho de Ourém, cuja particularidade reside no facto de uma dessas empresas pertencer a um membro da Assembleia Municipal e a outra ao filho deste.

A notícia foi avançada pelo jornal "O Mirante" (foto ao lado), mas já circulava há algum tempo pelas "capelinhas" do concelho.
Na verdade, o Município de Ourém já fez até dia 14 de Novembro deste ano 25 ajustes directos à empresa «Fernando Major - Construções Unipessoal, Lda.» (no valor de 135.433,79 Euros) e 33 à empresa «Major Santos & Filhos, Lda.» (no valor de 338.786,88 Euros), o que totalizam 58 ajustes directos e uma receita global de 474.220, 67 Euros.
Outro dado curioso prende-se com a súbita mudança de partido preconizada por Fernando Rodrigues Major nas últimas eleições autárquicas. Com efeito, PSD ferrenho e o rosto de um dos mais tradicionais bastiões social-democratas do concelho - Espite -, Fernando Major foi convidado em 2009 pelo PS/Ourém para ingressar na lista socialista à Assembleia Municipal, cargo para o qual foi eleito e onde permanece até hoje. Como não há almoços grátis (ou serão apenas meras coincidências?), a empresa de Fernando Major foi registada em 10 de Janeiro de 2011, mas logo no dia 3 de Junho de 2011 beneficiou de um ajuste directo que lhe rendeu 4.832,00 Euros. É caso para dizer que o PS/Ourém não fez letra morta daquilo que prometeu nas eleições de 2009, e transformou o nosso concelho num verdadeiro "município com pujança empresarial".
Ainda segundo o jornal "O Mirante", em 1999 a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro emitiu um parecer a propósito «do envolvimento de um vereador de uma câmara numa empresa que forneceu materiais a outra firma que tinha sido contratada pela autarquia», no qual se afirma: «pensamos que, e em obediência ao princípio da imparcialidade, se impõe um dever de abstenção por parte dos membros de órgãos autárquicos, de intervir em processo administrativo, acto ou contrato de direito público ou privado» [...]. «O parecer concluí que aquele vereador da Câmara de Vila de Rei não devia participar em qualquer negociação do género, "em nome do princípio da imparcialidade", como forma de proteger a sua independência, realçando que é de evitar que os agentes públicos se encontrem em situações de confronto entre o interesse próprio e os interesses públicos».
Voltando ao caso de Ourém, resta-nos dizer que tratar-se-á certamente de uma enorme coincidência, não há nestes ajustes directos nada mais que não seja boa vontade do município de Ourém em ajudar os amigos das empresas de construção do concelho. E, claro, quando se diz que há uma enorme promiscuidade entre as Câmaras Municipais, as construtoras e/ou os promotores imobiliários e a banca isso também não passa de má língua e não faz fé da realidade. E quando se diz que o ex-presidente da Câmara Municipal de Ourém, Dr. David Catarino, após cessar funções na edilidade oureense e depois de uma conturbada passagem pela Região de Turismo de Leiria/Fátima, se passou de armas e bagagens para uma empresa de construção civil do concelho para ir assessorar nas questões políticas, também isso é normal e não passa de uma grande coincidência...

quinta-feira, novembro 15, 2012

A fúria das bestas


Estas são as "bestas" e as "blasfémias" que mancham a nossa sociedade, e que nada têm a ver com contestação social. E ainda há quem diga que esta foi a maior carga policial ocorrida depois do 25 de Abril. O mínimo que se pode dizer é que a polícia teve uma enorme paciência. Por quanto tempo aguentaríamos nós esta selvajaria que as imagens documentam? Henrique Monteiro disse no Expresso aquilo que se impõe dizer. E isso basta.

Espanha, Grécia, Itália e Portugal são casos claros de como a ineficácia, os abusos e a corrupção não estão suficientemente controlados

Quem o diz é a organização Transparência Internacional, e vem a propósito do que se disse aqui.
Na verdade, não deixa de ser curioso, mas ao mesmo tempo lamentável, que haja nestes países uma grave carência de responsabilidade dos poderes públicos, os quais «revelam uma ineficácia, negligência e corrupção tão enraízadas que não é possível ignorar a relação entre a corrupção e as crises financeira e orçamental que se vive nestes países [...]. No que diz especificamente respeito aos países do Sul da Europa, a organização diz que "a corrupção consiste, com frequência, em práticas legais mas não éticas", fruto da opacidade nas regras que regem os grupos de pressão, o tráfico de influências ou a permeabilidade entre os sectores público e privado.O relatório salienta ainda que o financiamento dos partidos políticos não está devidamente regulado na Europa, apesar de ser uma área de alto risco de corrupção».

E não é menos verdade que os portugueses têm vindo a assistir a este dramático flagelo impávidos e serenos, como se a corrupção e a imoralidade fossem condição inata à classe política e não valesse a pena fazer qualquer coisa para a contrariar. Se nos lembrarmos do que se passou em Oeiras, Felgueiras e Gondomar (só para citar alguns exemplos) há umas eleições atrás, onde personalidades altamente suspeitas se recandidataram às respectivas Câmaras, depois de escorraçados dos respectivos partidos e quando já corriam pelos tribunais processos contra eles que os indiciavam na prática de crimes, ditos de colarinho branco, o que é que as populações desses municípios fizeram na altura? Votaram maciçamente nos seus heróis, elegendo-os, e declarando que eles tinham deixado obra feita. Aqui, não conta a conduta perversa destes políticos que, através da sua acção, subvertem a democracia. O que conta é que estes presidentes exemplares defenderam os interesses das populações, dinamizaram os seus concelhos e replicaram o seu conforto político e económico nas pessoas que os elegeram. A troco de um electrodoméstico ou de uma rotunda, quão felizes ficaram estes cidadãos, sem, no entanto, se aperceberem o quão foram coniventes com a própria corrupção.

Quando convivemos, lado a lado, com estes fenómenos e os tomamos como naturais, já não é só o país que perde, mas é a democracia que fica mais frágil e sem esperança. Enquanto dura este impasse civilizacional, devemo-nos todos lembrar que cada minuto que passa é um minuto a menos nesta luta que cabe a todos travar. E hoje, mais do que nunca, devemo-nos permitir usufruir de uma democracia verdadeiramente sã e livre de toda a indigência política que a conspurca. E é nosso dever exigir que a Justiça e os tribunais façam parte deste processo libertador.  

Combater o "banditismo de estado" é um imperativo moral do nosso tempo

Os portugueses habituaram-se com alguma facilidade a ouvir gente de alto gabarito dizer coisas patetas. Ainda não há muito tempo (em Setembro passado) a directora do DCIAP (Departamento Central de Investigação e Acção Penal), Cândida Almeida, dizia alto e bom som que os nossos políticos não são corruptos e que não havia corrupção em Portugal. Como é óbvio, salvo honrosas, sabemos todos, todavia, que aquela afirmação não corresponde à verdade e, por isso, não só é uma afirmação pateta como foi proferida, no mínimo, por uma pessoa igualmente pateta.
Felizmente que em Portugal ainda subsiste uma certa camada da sociedade que é honesta, algumas pessoas suficientemente decentes para trazerem à luz do dia alguns dos esquemas mais bafientos que se escondem na sombra do poder político e económico, e a máfia imoral que gravita à sua volta.
Paulo Morais, Professor Universitário, ex-vice-presidente da Câmara Municipal do Porto e vice-presidente da organização Transparência Internacional, num texto publicado no jornal Correio da Manhã online, fala-nos precisamente num destes exemplos, afirmando que «o ano de 2013 vai ser dramático no plano económico, haverá maior desemprego, fome e miséria. Mas, mesmo assim, irão derreter-se milhões nas campanhas eleitorais autárquicas». Disso nos dá conta o Jornal de Negócios, segundo o qual as eleições autárquicas de 2013 vão custar aos contribuintes qualquer coisa como 48,5 milhões de euros.
O problema é que, prossegue Paulo Morais na sua crónica, «nestas despesas não se poupa. O sistema de financiamento partidário tem muitos actores, vida própria e sustenta interesses poderosos. Os maiores beneficiados nem sequer são os candidatos. São, em primeiro lugar, os angariadores de fundos. Estes irão junto dos construtores, promotores imobiliários e, duma forma geral, dos maiores empresários de cada concelho; recolhem uns milhares e entregam uma parte aos partidos. Retêm cerca de quarenta por cento [há até quem afirme que esta "comissão" pode chegar aos 85%], o que é uma margem aliciante. O protótipo deste personagem é conhecido, tipo viscoso mas bem vestido que prolifera na política. Transporta milhares de euros em maços de notas, dentro de caras pastas de couro».
A imoralidade chega ao ponto de serem os próprios políticos que, em geral, «também não se queixam do sistema. Afinal, receber milhões em "cash" dá muito jeito. Não faltará dinheiro para as campanhas, poder-se-á pagar jantares a milhares de idosos devidamente angariados nos lares; as juventudes partidárias disporão de camionetas para transportar os rebanhos de apoiantes, não haverá restrições nas campanhas para presidentes de câmara».
Paulo Morais vai mais longe, e assegura que as «direcções nacionais dos partidos nada farão nem impedirão estas negociatas. Também elas se servem dos mesmos mecanismos. Quem transforma as suas sedes nacionais em autênticos "offshores", quem armazena milhões de euros em notas - não tem autoridade para moralizar as suas secções regionais e locais. Nem mesmo os financiadores querem mudar o sistema. São eles, aliás, os seus maiores beneficiários. Os que pagam são os que mais ganham, recebendo em favores do estado. Obras públicas serão pagas pelo dobro do seu valor, a gestão de água e saneamento será concessionada por rendas milionárias, projectos imobiliários irão ser ilegalmente aprovados, terrenos rurais serão reclassificados como urbanizáveis e gerarão margens de mil por cento. Os financiadores beneficiam dum retorno garantido e colossal». Finalmente, termina dizendo: «reféns destes mecanismos perversos de financiamento partidário, os autarcas estão a soldo de quem lhes paga as campanhas. E o poder local, uma vez corrompido, já deixou de ser democrático».
É, por isso, que combater o "banditismo de estado" se tornou numa emergência nacional e um imperativo moral do nosso tempo.

segunda-feira, novembro 12, 2012

Francisco Louçã tem mais encanto na hora da despedida

Ao completar hoje 56 anos de vida, Francisco Louçã é uma daquelas pessoas de quem se gosta ou se odeia. Ao longo dos últimos treze anos não criou unanimismos em Portugal, mas também, diga-se em abono da verdade, nunca os procurou. Foi incisivo, sarcástico até, mas, na hora da despedida, viu da parte de alguns dos seus adversários políticos o reconhecimento do encanto da sua singularidade, com que se distinguiu na Assembleia da República, perdendo esta, «um dos deputados mais brilhantes que a nossa democracia conheceu», um homem «de uma inteligência provocadora e fulgurante, detentor de um verbo inisitadamente acutilante, sustentado numa cultura invulgarmente sólida».
E foi esse o traço distintivo que, na verdade, Francisco Louçã soube imprimir com astúcia na vida política portuguesa, quer primeiro enquanto homem ligado às ciências e à investigação, quer depois como líder do Bloco de Esquerda (BE). Goste-se ou não, ele foi um verdadeiro parlamentar, foi frontal e fiel às suas ideias e convicções, defendendo-as ao máximo que a sua  intransigência o poderia permitir, sabendo ser um maestro exímio da sua própria orquestra e defensor de uma linha ideológica em que sempre acreditou.
Não será certamente uma despedida, até porque o BE verá nele sempre a referência norteadora dos seus ideais políticos. E a figura de Francisco Louçã ficará gravada na memória dos "bloquistas" e do país como o homem que contribuiu para a afirmação de um partido da extrema-esquerda que, em apenas dez anos, passou de uma expressão eleitoral, em 1999, de apenas 2,44% (com dois deputados eleitos), para a quarta força política mais votada em 2009 (alcançando 9,82% dos votos e elegendo dezasseis deputados), sendo mesmo o partido que mais cresceu em termos percentuais - 3,47%.
Enquanto parlamentar, Francisco Louçã travou intensos debates com primeiros-ministros da esquerda e da direita democráticas, desde António Guterres a Durão Barroso, passando por Santana Lopes e José Sócrates, até Pedro Passos Coelho. Com todos eles exprimiu as suas vincadas ideias e convicções políticas, intercalando o brilhantismo e a fluidez dos seus discursos com alguma "ironia de estado".
Francisco Louçã e o Bloco de Esquerda não são de todo nem personificam à partida a melhor alternativa política que vislumbramos para o país. Muitas das suas convicções são antagónicas sobre a forma como encaramos o papel do Estado. Mas, tal não significa que, em relação ao líder que agora se afasta, não lhe reconheçamos a seriedade, a verticalidade e a coerência que um político deve ter no desempenho das suas funções (quantos políticos não apregoam falsamente estas qualidades?). Pela sua parte, Francisco Louçã teve-as e defendeu-as, sem qualquer sombra de dúvidas. Também por isso deve ser justamente recordado, e que a história lhe faça a devida homenagem.
Entretanto, na passagem do seu aniversário, endereçamos-lhe daqui os nossos mais sinceros parabéns e votos das maiores felicidades pessoais e profissionais.

ICH BIN EIN BERLINER


domingo, novembro 11, 2012

São Martinho

"No dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho". Foi isto que fizémos hoje para cumprir a tradição e recordar a lenda de São Martinho. Este, foi bispo da cidade de Tours, em França, e foi um importante evangelizador do seu tempo. Tendo nascido em Sabária da Panónia, na Hungria, no ano de 315, foi, com apenas 12 anos, alistado pelo pai no exército romano. Diz a lenda que São Martinho, enquanto jovem oficial, teve uma atitude que o tornou conhecido, tendo dado metade da sua capa a um pedinte que encontrou na borda da estrada, assim o abrigando do frio. Com a acção do jovem soldado, o dia cinzento e de grande tempestade transformou-se num dia soalheiro e com o sol a raiar na Terra, pelo que, por esta altura, fala-se no "Verão de São Martinho".
Porém, a ligação deste dia à prova do vinho prende-se apenas com a altura do ano em que São Martinho morreu. É que, depois da vindima, que ocorre em Setembro ou no início de Outubro, o vinho ferve no lagar e depois nos pipos e nas cubas, sendo assim o dia de São Martinho o mais apropriado para se fazerem as primeiras provas. Ao vinho novo juntam-se as castanhas assadas e assim se celebram os magustos, reunindo familiares e amigos, sendo este um tempo de convívio e de celebração da amizade.

sexta-feira, novembro 09, 2012

Autoridade Tributária e Aduaneira em estado de alerta


Esta quarta-feira, ao abrirmos a caixa de correio electrónico, deparámo-nos com um email da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) que nos deixou intrigados - pois pensámos logo que lá viriam chatices -, mas não, era afinal uma recomendação do Director-Geral dos Impostos a alertar os contribuintes para a necessidade de exigirmos sempre a factura quando compramos um bem ou adquirimos algum serviço. O email em questão é transcrito seguidamente na íntegra:

"Assunto: Incentivo à exigência de fatura

A partir de 1 de janeiro de 2013 será obrigatória a emissão de fatura por todas as vendas de bens e serviços mesmo quando os particulares não a exijam.
Quando é emitida fatura, a Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) garante o controlo e a cobrança do IVA correspondente. Se a fatura não for emitida esse controlo é impossível.

Se todos exigirmos fatura em todas as aquisições que efetuamos conseguiremos:
• Aumentar a riqueza conhecida que Portugal produz (PIB);
• Aumentar as receitas fiscais, sem pagarmos mais impostos;
• Aumentar a equidade e justiça entre todos os contribuintes portugueses;
• Diminuir o défice orçamental e criar condições para uma redução futura da carga fiscal;
• Criar melhores condições para que o nosso país possa ultrapassar com rapidez a fase díficil em que se encontra.

Quando não exigimos fatura contribuímos para:
• Aumentar a evasão fiscal e enriquecer ilicitamente aqueles que não pagam impostos;
• Diminuir a receita fiscal, que é uma riqueza de todos os portugueses;
• Prejudicar com mais impostos os contribuintes cumpridores.

O seu papel é decisivo. Exigir fatura não tem custos. É um direito e um dever de todos. E todos ganhamos. Portugal e cada um de nós.
Em breve receberá mais informação acerca dos benefícios fiscais (até € 250) que serão proporcionados a quem exige fatura.


Com os melhores cumprimentos.
O Diretor-Geral,
José António de Azevedo Pereira"


Ora aqui está uma excelente ideia. Deste modo simples, a AT dá-nos a conhecer que o Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal pode subir se todos os contribuintes pedirem factura a partir de Janeiro do próximo ano (deve ser ideia do Gaspar). Para além disso, ao pedirmos factura, estamos a contribuir para o aumento das receitas fiscais, o que pressupõe não pagarmos mais impostos (isto é o paraíso na terra). Este gesto simples vai gerar também mais equidade e justiça entre todos os contribuintes, e vai fazer esta coisa extraordinária que é diminuir o défice orçamental e lançar as bases para uma futura redução dos impostos (finalmente, foi descoberta a pólvora). Desta forma, os problemas económicos do país dissipam-se e todos viveremos mais felizes (como nos filmes românticos, em que há sempre um final feliz).

Há, porém, um senão, como de resto em tudo na vida: se não pedirmos factura, vamos contribuir não só para a evasão fiscal e para o enriquecimento ilícito de uns quantos prevaricadores (O quê? Evasão fiscal e gente a enriquecer ilicitamente em Portugal? Claro que não!), mas também para a diminuição da receita fiscal, o que acaba sempre por prejudicar os do costume, ou seja, a raia miúda, que não pode fugir ao fisco porque paga na fonte os seus impostos.

De qualquer modo, ao lermos este email ficámos com uma dúvida: será que a AT também notificou, por exemplo, o Dias Loureiro e todas aquelas personagens nebulosas cujas fortunas passam diante dos olhos das finanças, mas ao lado do seu crivo? É que estes, sim, deviam começar, não a pedir, mas a pagar a factura...  

quarta-feira, novembro 07, 2012

Congratulations Mr. President!


Barack Obama foi reeleito Presidente dos Estados Unidos da América, derrotando o seu adversário Republicano Mitt Romney. Oxalá a Europa saiba dar o devido valor a esta vitória e perceba que pode ter nos EUA um aliado para a dura batalha que tem pela frente.

Qual o senhor que se segue?


Irá Obama permenecer por mais quatro anos na Casa Branca, ou dará a vez a Romney? Os dados disponíveis até agora apontam para um empate técnico, e tudo ainda está em aberto.
Na Europa, as eleições presidenciais norte-americanas têm passado ao lado da maioria da imprensa, o que pode ser sintomático do ânimo e do interesse que prende as actuais lideranças europeias a estas eleições. Parece ser indiferente para a Europa quem será o próximo presidente americano, como se isso não fosse importante para a visão estratégica do Velho Continente, ao ponto de desprezarmos o que se passa do outro lado do Atlântico.
Esperemos o que as próximas horas nos reservam, para vermos depois em que medida será moldado o nosso futuro.

quinta-feira, novembro 01, 2012

Halloween


Embora não sendo uma tradição genuinamente portuguesa, o Halloween tem cada vez mais seguidores e veio para ficar entre nós. Este ano, tal como no próximo, há mil e uma razões para ficarmos todos com a cabeça à roda e feita numa abóbora. Por enquanto, os portugueses ainda não vêem uma luz ao fundo do túnel. Resta-nos a luz da abóbora para iluminar as nossas vidas. É isso: estamos reféns da luz de uma simples abóbora.   

quarta-feira, outubro 31, 2012

Jack Welch - Vencer

Jack Welch sabe como vencer. Nos seus 40 anos de carreira na General Electric liderou este grupo global com sucesso, ano após ano, em múltiplos mercados e enfrentando uma forte concorrência. O seu estilo honesto de gestão, que defende o valor de «ser o melhor», revelou-se padrão de ouro no mundo dos negócios.

Desde que Welch se aposentou das suas funções de Presidente do Conselho de Administração e de Presidente Executivo da GE, em 2001, tem viajado por todo o mundo e participado em conferências como orador, onde é questionado sobre uma variedade de tópicos. Inspirado pela vontade destas audiências, de quase 250 mil pessoas, em ouvir os seus conselhos, decidiu escrever este livro, que pretende ser uma bíblia sobre o mundo dos negócios para as gerações vindouras. Este texto dá respostas claras às questões mais difíceis que enfrentamos, quer no trabalho quer na vida pessoal.
O objectivo de Welch é falar aos diferentes níveis da organização, para empresas grandes ou pequenas, colaboradores da linha da frente, detentores de MBA, gestores de projecto e executivos seniores, entre outros profissionais. Com este livro pretende ajudar todos os que têm uma paixão pelo sucesso.
Welch inicia Vencer com uma secção introdutória denominada «O que está por detrás», onde descreve a sua filosofia de negócio. Nesta parte do livro desenvolve a importância dos valores, da fraqueza, da diferenciação e da voz e dignidade para todos. A parte central de Vencer dedica-se ao que é importante no mundo do trabalho e está dividida em três partes. A primeira aborda o interior da empresa, desde a liderança até ao recrutamento de vencedores. A segunda descreve o exterior e a concorrência. A parte seguinte deste livro é sobre a gestão da carreira: desde encontrar o emprego certo até conseguir um equilíbrio saudável entre a vida pessoal e o trabalho.
Os seus pontos de vista optimistas, onde «não existem desculpas» porque «as coisas têm de ser feitas», são contagiantes. Preenchido com relatos de experiências pessoais e escrito no seu estilo distinto, Vencer é um livro que transmite novos conhecimentos, pensamentos originais e soluções para algumas questões práticas e, por isso, mudará a forma como encara a sua vida.
Na sua edição portuguesa, o livro conta com um Prefácio de Belmiro de Azevedo:

"[...] Este livro passa igualmente a pente fino questões fundamentais para a gestão das empresas, numa linguagem directa, simples, e apela permanentemente que se passe de ideias gerais a decisões de gestão e sobretudo que a sua execução seja rigorosa. Sugere que através dos «cinco slides» que o mercado seja identificado, que os concorrentes sejam continuamente estudados, que a equipa seja constantemente renovada e que os objectivos sejam sistematicamente ambiciosos e cumpridos. Só assim se conseguirá manter um clima desafiante, que conduzirá à excelência dos resultados.
O livro Winning [...] aborda fundamentalmente duas questões - a estratégia num mundo cada vez mais diversificado e global e o desenvolvimento de carreiras para os seus principais gestores.
Porque estou especialmente sintonizado com estas duas mensagens, é-me particularmente gratificante recomendar uma leitura atenta desta obra aos profissionais de Gestão do mundo de língua portuguesa, sendo que a sua leitura também poderá ser extremamente útil e educativa para a classe política em geral.
É um livro de fácil leitura, com uma linguagem muito directa e que vale a pena ler, reler e estudar [...]".

terça-feira, outubro 30, 2012

Perda de soberania. Ainda havia dúvidas?

"Muitos governos ainda não perceberam que perderam a sua soberania nacional" - quem o diz é Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu.

A ideia surge na sequência das afirmações do ministro das finanças alemão, que defende a existência de um super comissário europeu com poderes supranacionais sobre os orçamentos dos Estados-membros, com capacidade de vetar esses orçamentos caso estes não cumpram as metas do défice.

"Só quando os países da Zona Euro estiverem dispostos a partilhar soberania ao nível europeu é que ganharão, eles mesmos, soberania", acrescentou Mario Draghi.

Que poderes restarão aos Estados?

segunda-feira, outubro 29, 2012

Refundação do Estado?

O primeiro-ministro Passos Coelho rezou um acto de contrição e anunciou ao país na semana passada que quer empreender, até 2014, uma reforma do Estado, que consistirá numa "refundação" do memorando de entendimento celebrado com a Troika.
Boa Pedro, excelente ideia! O país estava carente deste tipo de masturbação ideológica, faminto por experimentar novas sensações de prazer e ejacular doses incomensuráveis de esperança!
Conta connosco para levar por diante esta empreitada, sabemos que difícil, mas será certamente muito gratificante. E o país vai-te agradecer e, quem sabe, dar-te a vitória em 2015, se é que lá chegas vivo e inteiro.
Refundir é, pois, a palavra de ordem. Toca a juntar as tropas e marchar por essas instituições públicas e por esse país adentro. Não podemos permitir um Estado obeso, cheio de vícios e gorduras. Matemos todos os fungos venenosos que o corroem por dentro, pelos lados e por fora. Combatamos as pieguices e essa coisa extraordinária, mas que já leva séculos de existência, que é insistirmos nesse luxo de vivermos acima das nossas possibilidades e de termos 485 Euros de salário mínimo. Estes "pintelhos" que desgraçam a economia do país têm de ser banidos de uma vez por todas da sociedade portuguesa. Temos de renascer das cinzas, como a Fénix, para posar bem na fotografia da grande Europa da senhora Merkel e de todos os outros indigentes políticos a quem tu lambes as botas.
Por isso, antes de deixares o país e os portugueses na mais absoluta miséria económica, física e psicológica, ensaia primeiro a refundação que a seguir te sugerimos:
- Refundir meia centena de deputados que estão a mais no parlamento.
- Refundir as PPP e todas as rendas e subsídios que são uma burla para o Estado e que nos custam uma pipa de massa.
- Refundir aquelas empresas municipais que são ciclicamente deficitárias, cujas atribuições e competências são redundantes e que só servem para empregar a malta acéfala e indigente dos aparelhos partidários.
- Refundir as inúmeras fundações que representam uma multiplicação de funções do Estado e que só servem para empregar gente amiga, sem emprego e que apenas sabe viver à conta do Estado.
- Refundir os inúmeros institutos públicos que constituem uma espécie de IEFP da malta dos partidos e de ex-nomeados para os órgãos superiores da administração pública.
- E, nesta linha, refundir o escândalo que são também alguns dos vetustos observatórios que não observam nada, mas que custam milhões ao erário público.
- Refundir as mordomias principescas que graçam de uma ponta a outra da administração pública, de que as senhas de presença, os subsídios para tudo e mais alguma coisa (habitação, deslocação, representação, e mais o diabo a quatro) são apenas um ínfimo exemplo. Era preferível aumentar o salário dessa gente toda, nas devidas e contidas proporções, do que andar a subsidiar e a alimentar uma quadrilha de chupistas que só sabem mamar à custa dos impostos dos portugueses.
- Refundir o financiamento aos partidos e deixar que cada um se financie por conta própria e não à custa dos portugueses. Por que razão os autores deste Blog têm de andar a pagar as campanhas elitorais do CDS-PP quando nem sequer votam neste partido?
- Refundir um número justo e equilibrado das 4.260 freguesias do país, muitas das quais criadas em cima do joelho, por razões muitas vezes bairristas e estritamente políticas e eleitoralistas, e que são também um considerável sorvedouro de dinheiros públicos. E, no entretanto, analisar, de forma imparcial e com olhos de ver, se no Século XXI se justifica e se há dimensão e capacidade para manter 308 municípios em Portugal.
- Refundir as rendas chorudas e imorais pagas ao sector energético com o dinheiro de todos nós.
- Refundir o "ministério da dívida pública", o que não deve significar deixar de pagar aos credores, mas antes pagar segundo as nossas reais capacidades, deixando fôlego para que os portugueses possam respirar e sobreviver.
- Refundir os multimilionários custos com pareceres jurídicos encomendados aos amigos, quando não mesmo aos escritórios e/ou empresas dos próprios que os encomendam, quando sabemos que o Estado tem e pode perfeitamente utilizar os recursos de que dispõe para a sua elaboração.
- E a lista seria quase interminável...
Caro Pedro, enquanto não regurgitarmos tudo o que causa asia ao Estado, o engorda e o torna lento, burocrático e podre, não há refundação possível que nos possa valer enquanto país. Haja coragem para enfrentar as clientelas, os grupos de interesse, os parasitas que vivem à custa da "causa pública", os corporativismos e toda essa cambada de gente inútil que pulula de tacho em tacho à espera da melhor cama para se deitar, haja vontade para o fazer e verás que os portugueses serão o melhor povo do mundo e Portugal um país mais livre, mais justo e mais democrático.

sexta-feira, outubro 26, 2012

Tony Judt - Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos

Tony Judt (1948-2010) fez os seus estudos do ensino superior no King's College, em Cambridge, e na École Normale Supérieure, em Paris. Foi professor de História nas universidades de Cambridge, Oxford, Berkeley e na Universidade de Nova Iorque, onde fundou o Remarque Institute, em 1995, e leccionou Estudos Europeus. Durante anos contribuiu com artigos e ensaios para várias publicações, como a New York Review of Books, o Times Literary Supplement, The New Republic, entre outras.

Para além deste Um Tratados Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos, Tony Judt escreveu O Século XX Esquecido-Lugares e Memórias (Edições 70, 2008) e Pós-Guerra-História da Europa desde 1945 (Edições 70, 2006), a sua obra mais conhecida e com a qual foi finalista do Prémio Pulitzer em 2005 e galardoado em 2008 com o Prémio do Livro Europeu. Em 2007, Tony Judt recebeu o Prémio Hannah Arendt e em 2009 viria a ser galardoado com uma menção especial do Prémio Orwell.

Este livro, que pode ser adquirido aqui, é uma preciosidade da historiografia contemporânea, à qual não podemos ficar indiferentes. Um dos temas que o autor aborda no livro, sob o título O Culto do privado, não podia ser mais actual, pelo que aqui ficam algumas passagens do texto para servir de aperitivo a esta grandiosa leitura que desde já recomendamos aos nossos leitores:

"Com o advento do Estado moderno (especialmente durante o século passado), os transportes, hospitais, escolas, correios, exércitos, prisões, forças policiais e acesso barato à cultura - serviços essenciais que não ficam bem servidos pelo funcionamento do móbil do lucro - foram postos sob regulação ou controlo públicos. Estão agora a ser reentregues a empreendedores privados.
O que temos estado a assistir é á firme deslocação da responsabilidade pública para o sector privado sem vantagem colectiva discernível. Contrariamente à teoria económica e ao mito popular, a privatização é «ineficiente». A maioria das coisas que os governos julgaram apropriadas para passar para o sector privado estava a funcionar com prejuízo: fossem companhias de caminhos-de-ferro, minas de carvão, serviços postais ou empresas de energia, o custo de fornecê-las e mantê-las é maior do que as receitas que alguma vez se esperasse obter.
Precisamente por essa razão, esses bens públicos não eram em si mesmos apelativos para compradores privados, a amenos que oferecidos com um desconto acentuado. Mas quando o estado vende barato, o público fica a perder. Calculou-se que durante as privatizações britânicas da era Thatcher, o preço deliberadamente baixo com que bens de há muito propriedade pública foram transaccionados no sector privado resultou numa transferência líquida de 14 mil milhões de libras dos contribuintes para accionistas e outros investidores. A esse prejuízo devem ser acrescentados mais 3 mil milhões de libras em comissões para os banqueiros que negociaram as privatizações. Portanto, o Estado pagou ao sector privado 17 mil milhões de libras [...] para facilitar a venda de activos que de outra maneira não teriam tido compradores. [...] Dificilmente se pode interpretar isto como utilização eficaz dos recursos públicos.
O melhor estudo das privatizações no Reino Unido conclui que a privatização »per se» teve um efeito dificilmente modesto no crescimento económico a longo prazo - ao mesmo tempo que distribuiu regressivamente a riqueza dos contribuintes para os accionistas de companhias acabadas de privatizar. A única razão por que os investidores privados desejam adquirir bens públicos aparentemente ineficientes é porque o estado elimina ou reduz a sua exposição ao risco. No caso do Metro de Londres, por exemplo, foi accionada uma «Parceria Público-Privada» (PPP) para convidar investidores interessados a comprar partes da rede do metro. As empresas adquirentes receberam a garantia de que, acontecesse o que acontecesse, ficariam protegidas de prejuízos graves - minando assim o argumento económico em favor da privatização: o funcionamento do móbil do lucro. Nessas condições priveligiadas, o sector privado revelar-se-ia no mínimo tão ineficiente como o seu homólogo público - rapando os lucros e cobrando os prejuízos ao Estado. O resultado foi o pior tipo de «economia mista»: empreendimentos individuais indefinidamente subscritos por fundos públicos [...]. 
[Friedrich Hayek], na sua insistência para que as indústrias monopolistas (incluindo caminhos-de-ferro e fornecedores de água e electricidade) fossem deixadas em mãos privadas, ele esqueceu-se de prever as implicações: dado que nunca seria permitido a esses serviços nacionais vitais desintegrar-se, os privados poderiam correr riscos, desbaratar recursos ou apropriar-se indevidamente desles à vontade, sabendo que o governo pagaria a conta [...]".
E, para terminar, deixamos uma passagem da Introdução do livro:
"A qualidade materialista e egoísta da vida contemporânea não é inerente à condição humana. Muito do que hoje parece «natural» remonta ao anos 80: a obsessão pela criação de riqueza, o culto da privatização e do sector privado, as crescentes disparidades entre ricos e pobres. E sobretudo a retórica que vem junto: admiração acrítica dos mercados sem entraves, desdém pelo sector público, a ilusão do crescimento ilimitado. Não podemos continuar a viver assim. O pequeno «crash» de 2008 foi um aviso de que o capitalismo não-regulado é o pior inimigo de si mesmo: mais cedo ou mais tarde há-de ser vítima dos seus próprios excesso e para salvar-se recorrerá novamente ao Estado. Mas se nos limitarmos a apanhar os bocados e continuar como dantes, podemos esperar convulsões maiores nos próximos anos. E, porém, parecemos incapazes de conceber alternativas. Também isso é novo".
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