sexta-feira, novembro 28, 2014

Quantos são?

Letra morta, posta à prova,
Tempos vão,
Quantos são?
Uns quantos, que eu nem sei,
Tantos quantos,
De quem nunca olvidei.

(João Pereira)



"Impõe-se, por isso, agitar, pôr em equação os problemas que nos interessam, discuti-los com serenidade, apontando as soluções que a nossa consciência honestamente nos ditar, sem que para isso seja necessário discutir os homens, porque estes não nos interessam a não ser quando os seus desmandos governativos necessitem de censura. E quando dele necessitarem, teremos o cuidado de ser imparciais, justos e sobretudo educados.

Havemos de procurar, através de tudo, não fazer deste jornal um órgão de qualquer grupo ou partido, mas um órgão de todos e para todos. As suas colunas estão ao alcance de toda a gente, bastando para isso que sejam honestos os seus propósitos, que sejam correctos os seus escritos [...]".

[palavras, leva-as o vento].

domingo, novembro 23, 2014

O cidadão Pinto de Sousa

Sobre Sócrates, apenas me ocorre dizer que me cruzei com ele uma única vez, curiosamente em Ourém, aquando da sua vinda para apadrinhar, se a memória não me atraiçoa, um jantar do 25 de Abril, que decorreu na Quinta de Alcaidaria-Mor, corria o ano (mais uma vez presumo) de 2004.
E digo 2004, porque o até então cidadão Pinto de Sousa, ex-ministro de Guterres, já trilhava o caminho para assumir a liderança do partido socialista e apresentar-se como candidato do PS nas próximas eleições legislativas, que foram, como todos sabemos, antecipadas para 2005, e que venceu com maioria absoluta, graças ao célebre discurso da “tanga” de Durão Barroso e à sua saída ardilosa para a comissão europeia, borrifando-se para o país e olhando apenas para o seu umbigo, procurando novas experiências, a que se somou o rocambolesco e efémero governo de Santana Lopes, que foi o que se sabe, e que originou a bomba atómica lançada pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, deitando abaixo o governo.
Nesse jantar, deu-se também a coincidência de o cidadão Pinto de Sousa ter estacionado o seu Peugeot 607, cinza escuro, lado a lado com o nosso carro, e, no final da efeméride, já a noite era breu, quando nos dirigíamos para o carro, termos dado de frente com a dita figura, que também abandonava o local à mesma hora, e de nos termos metido com ele, questionando-o com algo do género: “Então engº, é você que vai ser o próximo primeiro-ministro?”. Ele, respondeu em tom lacónico que estava ali para participar num jantar alusivo ao 25 de Abril, acabando por esboçar apenas um sorriso esquivo, despedindo-se e ido embora de seguida.
Como vêem, nada mais sei sobre Sócrates para além disto.
Isto não significa, porém, que não tenha uma opinião formulada sobre o homem. De qualquer modo, e até por imperativos de formação, nunca deixo de dar o benefício da dúvida a quem quer que seja, até mesmo ao cidadão Pinto de Sousa, ou pôr em causa o princípio da presunção de inocência.
De qualquer modo, o “caso” Sócrates suscita-me, pelo menos, duas análises.

a) Por um lado, temos a questão da oportunidade ou do momento “escolhido” para criar todo este imenso alarido e show-off no país.
Convenhamos que, a escassos meses das eleições legislativas e com o governo a arder em lume brando, é demasiadamente evidente a coincidência que há entre a detenção de Sócrates e o processo eleitoral que se avizinha. Ou seja, o timing político é perfeito.
E também não é coincidência o facto de o “caso” Sócrates ir, inevitavelmente, colocar em segundo plano processos como os do BES, dos Vistos Gold e afins, cujas probabilidades de caírem paulatinamente no esquecimento são enormes, e que se revela bastante conveniente para, nestes casos, se “branquear” o que tiver que ser “branqueado”. Ora bem, “keep calm, estamos em Portugal”!
Depois, também não será certamente coincidência o facto de já existir uma tentativa da parte da Coligação PSD/CDS de colar o actual líder do PS a José Sócrates, o que aconteceu, como todos nós nos recordamos, ainda antes de este ter sido detido no Aeroporto de Lisboa e do acontecimento, para gáudio de muitos, ter sido quase, senão mesmo transmitido em directo pelas televisões, numa maratona informativa, do tipo daquelas a que estamos habituados, com a devassa completa da vida privada das pessoas, do seu direito à presunção de inocência, com a massacrante repetição das mesmas notícias, ou seja, tal qual o pão para encher chouriços.

b) Por outro lado, questão bem diferente é o caso propriamente dito, isto é, a descoberta da verdade em relação aos crimes de que o agora ilustre cidadão Pinto de Sousa vem sendo indiciado, recorde-se: corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal.
Sobre estes, manda a especial prudência aguardar serenamente pelos ulteriores trâmites do processo, respeitar o tempo da justiça e deixar os tribunais cumprirem a sua função.
Mas, se me perguntam o que acho disto tudo, confesso que sou tentado a dizer que continuo a achar demasiadas coincidências nesta história toda. E conhecendo eu um pouco como funciona a política em Portugal, ou melhor, como funciona alguma classe política, com certeza não seria pelo cidadão Pinto de Sousa que colocaria as mãos no lume.
E depois há aquela velha questão – tantas vezes aqui repetida – da promiscuidade vergonhosa e impune que existe entre o poder económico e o poder político em Portugal, e em que, quando vem à tona casos como o de Sócrates, envolvendo políticos ou ex-políticos, quase sempre anda lá pelo meio uma empresa ligada ao sector da construção, que funciona como uma espécie de “entreposto comercial” e/ou “agência de recrutamento”. Quem não se lembra do bonacheirão Ferreira do Amaral e da sua maravilhosa incursão pelo mundo empresarial (Lusoponte) depois de deixar o governo, ou do sempre pragmático e prestativo Jorge Coelho, talhado à medida da Mota-Engil, ou ainda dos casos daqueles ex-presidentes de câmara que transitam, temporária ou definitivamente, após o cumprimento dos respectivos mandatos autárquicos, para empresas ligadas, mais uma vez, ao sector da construção. E temos exemplos aqui tão perto…

De facto – e para finalizar –, se me perguntam o que continuo a achar disto tudo, posso dizer-vos: se Sócrates é efectivamente culpado, então que seja punido pela justiça, ele e todos os envolvidos sem excepção, mas repito, punido pela justiça, de forma exemplar, para que possa servir de exemplo para todos.
Se isso irá ajudar na credibilização da política e dos políticos? Bem, em relação a esta matéria, continuo a ter as minhas dúvidas, pois a idade já não me deixa ser ingénuo a esse ponto. E Sócrates pode ser tudo, menos ingénuo. 

sexta-feira, novembro 21, 2014

Subvenções vitalícias


"Confesso a Deus Omnipotente, à bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao bem-aventurado são Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado são João Baptista, aos santos apóstolos Pedro e Paulo, a todos os Santos e a vós, Padre, porque pequei muitas vezes, por pensamentos, palavras e obras, (bate-se por três vezes no peito) por minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa. Portanto, rogo à bem-aventurada Virgem Maria, ao bem-aventurado são Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado são João Baptista, aos santos apóstolos Pedro e Paulo, a todos os Santos e, a ti Padre, que rogueis por mim [e por eles] a Deus Nosso Senhor". Ámen.

Mar português


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

sexta-feira, novembro 07, 2014

Ainda o IMI 2015


Têm vindo a público várias declarações políticas proferidas pela Coligação PSD/CDS, uma das quais datada de 30 de Setembro, na qual se regozijavam pela aprovação da redução da taxa de IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) para 2015, dos actuais 0,375% para 0,330%, só que, ocultando deliberadamente aos oureenses o verdadeiro autor daquela proposta. Rezava assim: Na última reunião do executivo, os Vereadores da Coligação, em conjunto com a Vereadora do MOVE, aprovaram a Taxa de 0,33% de IMI para o próximo ano”, e mais à frente refere-se que “pelo comportamento e atitudes que tem vindo a demonstrar [leia-se o Presidente da Câmara Municipal], não lhe reconhecemos autoridade moral [onde é que eu já ouvi esta expressão? Ah, já sei, foi em 27 de Setembro do ano passado] para nos qualificar de irresponsáveis, ou pôr em causa a nossa seriedade”, pode ler-se no documento tornado agora público e assinado pelos vereadores da Coligação.

Acontece que, para haver justiça naquilo que se afirma, a Coligação deveria ter escrito algo do género: “Na última reunião do executivo, o vereador do MOVE, em conjunto com os vereadores da Coligação, aprovaram a Taxa de 0,33% de IMI para o próximo ano”, proposta que foi apresentada pelo primeiro e não pelos segundos. Por outro lado, valha-me Deus, Vítor Frazão é um vereador e não uma vereadora. Até tem bigode e tudo. É um “lapso” grosseiro e ofensivo, o que me leva a pensar que Vossas Excelências só podem estar doidas. Acresce que a única proposta para redução do IMI a ser votada e aprovada na Reunião da Câmara Municipal foi a do MOVE. Os vereadores da Coligação, se tinham alguma proposta, não chegaram sequer a apresentá-la, ou melhor, limitaram-se a ventilá-la para a Comunicação Social. A verdade é que, na sala, após segredarem uns com os outros, colaram-se ao MOVE e votaram favoravelmente a proposta apresentada por Vítor Frazão. Ora, se os oureenses, com esta decisão, vão pagar menos IMI no próximo ano, o que obviamente não deixa de ser uma boa notícia, isso deve-se ao MOVE e a Vítor Frazão.

Todavia, parece bom de ver que a Coligação cometeu neste episódio mais uma argolada monumental, o que não deve ter agradado sobremaneira ao alegado “timoneiro” do barco. Já não bastava Luís Albuquerque ter arrastado os social-democratas para as tormentas e para a pior derrota eleitoral desde 1979 [pois que é bom não esquecer que o PSD, ainda por cima, concorreu coligado com o CDS nas últimas eleições autárquicas, e se subtrairmos aos 38,37% dos votos obtidos pela Coligação em 2013 os 4,55% alcançados pelo CDS em 2009, sobram-nos apenas 33,82%, resultado este que só encontra paralelo nas eleições de 1976 (31,73%) e 1979 (28,88%), as últimas das quais, curiosamente, tendo como cabeça de lista do PSD à Câmara o Prof. Mário Albuquerque], dizia eu que se já era bastante este cataclismo no partido, vem agora mais uma vez o filho Luís desferir novo golpe, ao ter-se colado ao MOVE na questão do IMI, ao invés de se tentar demarcar de Vítor Frazão e fazer prevalecer a(s) sua(s) proposta(s). E para quem tanto acusava o MOVE de se colar ao PS, parece que é agora o PSD que se quer colar ao MOVE! Surpreendente, não acham? Pois é, mas pela boca morre o peixe. Ou será que é mesmo uma simples questão de amor platónico?!

Em jeito de conclusão, notar que, para o bem ou para o mal, foi Vítor Frazão quem apresentou a proposta de redução do IMI para o próximo ano, e não a Coligação PSD/CDS. Depois, ao tentar-se ludibriar e encobrir deliberadamente o autor da proposta, quer-se com isso fazer um aproveitamento político e reclamar a paternidade de uma coisa que não é sua (o que, de resto, é bem demonstrativo da alegada seriedade que tanto se apregoa). Finalmente, refira-se ainda que “à mulher de César não basta ser séria, tem também de parecer séria”.

segunda-feira, novembro 03, 2014

Crónicas de um tempo fascista

O Blog iNovOurém avançou há dias com a notícia de que o Director do Jornal “Notícias de Fátima” tinha dado o dito pelo não dito, ao ter alegadamente censurado a participação escrita com carácter de regularidade do MOVE nas páginas daquele jornal.
Na verdade, importa primeiro conhecer os factos para depois podermos tirar conclusões mais fundamentadas e reais. 
1. No passado dia 20 de Agosto, Vítor Frazão, desconhecendo o endereço de email do Exmo. Senhor Director do Jornal “Notícias de Fátima”, teve oportunidade de endereçar para o email info@noticiasdefatima.pt um pedido de um espaço para o Colunista do MOVE – Movimento Ourém Vivo e Empreendedor (ou seja, João Pereira) poder escrever, com carácter de regularidade, no Jornal “Notícias de Fátima”.
2. A resposta chegou, também via email, no passado dia 8 de Setembro, tendo a Exma. Senhora Dra. Fernanda Frazão informado que “No seguimento do vosso email [ou seja, do email enviado por Vítor Frazão], vimos por este meio informar que o Notícias de Fátima não tem por hábito dar espaço a um colunista que «represente» um partido político. Por isso, se quiser escrever, enquanto cidadão e leitor do Notícias de Fátima, poderá fazê-lo. Basta estar devidamente identificado e respeitar o estatuto editorial e o espaço que lhe for concedido”.
3. Na sequência desta comunicação, Vítor Frazão entrou em contacto com João Pereira para lhe dar nota do conteúdo daquela informação de 8 de Setembro, tendo este, por sua vez, enviado um email datado de 9 de Setembro com o seguinte teor: “Na sequência dos contactos havidos com o Dr. Vítor Frazão em relação ao assunto em epígrafe, sou pelo presente a solicitar a V.Exas. que me informem qual o tamanho do espaço/texto destinado à coluna de opinião. Mais solicito que me informem a data/prazo limite para o envio dos textos destinados a publicação”.
4. Ainda neste mesmo dia 9 de Setembro, pelas 21h27m, João Pereira obteve a seguinte resposta da parte do Jornal “Notícias de Fátima”, cujo email foi assinado pela Exma. Senhora Dra. Fernanda Frazão: “O Notícias de Fátima é um jornal local, os nossos colaboradores são de Fátima ou, de alguma forma, estão ligados a Fátima. O melhor é aguardarmos mais algum tempo e quando reformularmos a lista dos nossos colaboradores (neste momento, as colaborações estão definidas até ao final do ano), voltaremos a entrar em contacto com o Dr. Vítor Frazão”.
5. Finalmente, verifica-se até ao momento uma completa ausência de resposta por parte do Jornal “Notícias de Fátima”, seja ao email enviado por Vítor Frazão no pretérito dia 10 de Setembro, às 11h46m02s, seja à carta enviada por João Pereira no dia 30 de Setembro.
Perante a realidade nua e crua dos factos, deixemos algumas perguntas:
a) Como é possível dizer-se no dia 8 de Setembro que o Jornal “Notícias de Fátima” não tem por hábito ceder espaço aos partidos políticos, quando, apenas quatro dias depois, na edição do dia 12-09-2014, aparece (e já não é a primeira vez) a coluna do “Movimento Somos Fátima”, facto que se repetiu na edição de 26-09-2014 e em edições subsequentes?
b) Qual é, afinal, a diferença entre o “Movimento Somos Fátima” e o “MOVE – Movimento Ourém Vivo e Empreendedor”?
c) Como pode explicar o Director do Jornal que num dia se autorize o Colunista do MOVE a escrever no jornal enquanto cidadão e leitor do “Notícias de Fátima”, e logo no dia a seguir – ou seja, escassas horas depois – dê o dito pelo não dito e escreva que “o Jornal Notícias de Fátima é um jornal local” e que os “colaboradores são de Fátima ou, de alguma forma, estão ligados a Fátima”?
d) E como se explica que o Colunista do MOVE, só porque é natural de Ourém, terá que aguardar por outra ocasião?
e) Quando se afirma que o “Notícias de Fátima é um jornal local”, significa isto que a sua missão jornalística e informativa se restringe à freguesia/paróquia de Fátima?
f) As notícias do concelho de Ourém não interessam a Fátima? E as de Fátima não interessam ao resto do concelho? Será que Fátima não é Ourém?
g) Poderá o Director do Jornal ter a amabilidade de informar se esta “imposição” se encontra vertida nos Estatutos do Jornal “Notícias de Fátima”?
h) E como se explica que ilustres cidadãos da freguesia de Fátima tenham escrito no passado no jornal e na Coluna do PSD no “Notícias de Ourém”? E como se explica que outros o continuem ainda agora a fazê-lo?
i) Será tacanhez de uns e abertura de espírito de outros?
Conclui-se, portanto, que estamos perante uma decisão estritamente política e que nada tem a ver com critérios jornalísticos.
Comprova-se, ainda, que o MOVE – Movimento Ourém Vivo e Empreendedor, só poderá continuar a fazer circular a sua mensagem (como de resto tem acontecido até agora) noutros órgãos de Comunicação Social que não sejam “locais”, como parece ser o caso do Jornal “Notícias de Fátima”.
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