terça-feira, outubro 02, 2012

Filho da puta

Ainda o caso do estudante universitário que, alegadamente, chamou filho da puta ao primeiro-ministro...

Qualquer pessoa com bom-senso sabe que chamar filho da puta a alguém não é uma atitude correcta, embora saibamos que quem ainda não o fez, que atire a primeira pedra. A universidade, na qual ocorreu o alegado insulto ao primeiro-ministro quando este a visitava, decidiu instaurar um inquérito ao aluno em questão, aquele mesmo que as televisões amplamente divulgaram a ser prontamente abordado pelo chefe da segurança pessoal do primeiro-ministro e a ser "detido" para identificação.

E o que as televisões também mostraram, sobretudo a TVI, foi um chefe de segurança arrogante, tremendamente desorientado a interpelar o tal jovem estudante de forma igualmente desproporcionada e a fazer lembrar os tempos da PIDE.

Acrescente-se a isso a cena lamentável do mesmo chefe da segurança pessoal do primeiro-ministro a insurgir-se contra um repórter de televisão, tratando-o por tu - como já se conhecessem há muito tempo -, agredindo-o física e verbalmente, só porque este, no exercício da sua profissão e no quadro da liberdade de imprensa, o estava a filmar enquanto decorria a "detenção" do jovem universitário, e temos os ingredientes necessários para duvidarmos da proporcionalidade dos meios utilizados pela polícia para atingir os seus fins.

Não queremos dizer, no entanto, que estamos de acordo com falta de educação ou que chegámos a um ponto em que vale tudo só porque estamos descontentes com o rumo que o país está a levar. A decência das palavras é um imperativo da vida em sociedade e, como tal, aquele jovem deveria ter sido mais recatado quando se referiu ao primeiro-ministro.

Mas, a prepotência das polícias também deve ser contida, e reconduzir-se à sua função, que é garantir a segurança e a ordem pública. Será que este jovem, por muito que tenha errado - e errou -, constituia um problema tão grave de segurança e ordem pública? E o repórter de televisão não estava a cumprir o seu direito / dever de informação?

Foto: Diário de Notícias

É verdade que o governo anda completamente desnorteado, a ponto de não saber já distinguir o essencial do acessório, a não descortinar a fronteira entre a legalidade e a ilegalidade, entre o que constitui uma ameaça séria e um gesto inofensivo... Mas, se chegámos a este ponto é porque algo vai mal neste governo, algo não corre bem, e isso pode pôr em causa até a própria democracia. E quando começamos a vislumbrar casos de arrogância e prepotência como aqueles que vimos naquela universidade, então se calhar é chegado o momento de reflectirmos sobre o modelo político, económico e social que queremos para Portugal. Já vamos tarde, mas ainda vamos a tempo.

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