sexta-feira, setembro 24, 2021

Um dia nasci...

Um dia nasci, em Champigny sur Marne, filha de pais que procuravam outras condições de vida, noutro país. Eles, tal como tantos, partiram em busca do melhor para si e para os outros que um dia haveriam de chegar. E aqui se vê que o povo não tem medo! Avança! Principalmente quando as imposições “exteriores a cada um” os deixa em paz!
Tenho raízes recentes no Estreito, vindas da Freixianda, do Olival e dos concelhos limítrofes, como do sul do concelho de Pombal. O desenho da minha árvore geneológica permitiu perceber que um antepassado meu morreu em tempo de invasões francesas. Foi sepultado num campo, algures, sem os últimos sacramentos habituais. Foi bom saber dele!
Cresci no Estreito, na parte que pertence a Casal dos Bernardos. Saí para estudar. Hoje, a partir da empresa sediada nessa mesma aldeia, trabalho sempre fora do concelho, onde se dá importância ao passado e se reconhece e glorifica quem nos trouxe até ao aqui e agora, estudando os vestígios da antiga presença nas terras.
No concelho continua a achar-se graça ao que pode embrutecer e fazer crer ao povo que que se lhe dá o melhor! Mas depois fugimos todos daqui, numa vaga de emigração ou noutra vaga de migração.
Quando nascemos, diz a canção, somos selvagens! E, outra música canta que como a gaivota somos livres de voar! Mas quanta tem sido a diferença entre a música que se ouve e a dança que nos têm forçado a bailar!
Se no principio da humanidade os humanos andavam seguros de que, como a aves do céu, eramos acalentados pela natureza, tudo foi mudando à medida que a evolução se encaminhou para a dita civilização. Com o tempo, as pessoas deixaram de se alinhar com o universo e com o planeta onde moram e com a terra e os antepassados que os sustentaram. E seguiram os códigos criados por meia dúzia, castrando os outros. Foi assim nos momentos em que se passou a apelidar a terra de (sua) propriedade e a dividir e a retalhar o que nasceu naturalmente livre. A terra e o que nela nasce e cresce.
Mas podia ser diferente. Tentemos imaginar que a evolução da humanidade e os sistemas afins não precisavam de ter castrado a liberdade e independência de alguns. Se o desenvolvimento andasse lado a lado com a independência, a liberdade, a sabedoria e a consciência de quem somos: seres sencientes num planeta onde os recursos chegam para todos!
Ao invés, as ideologias criadas e mantidas aperfeiçoaram um espartilho e, quem se alevanta e mostra suas capacidades, ou é convidado a coloca-las ao serviço de quem reprime ou é aniquilado. Assim aconteceu desde há muito com diferentes pessoas e continuará a acontecer enquanto a maioria quiser continuar sem resgatar o seu poder.
Um dia voltamos da França. Eu era pequena. Tinha 5 anos de idade. A escola no Estreito fechou. E fomos juntar-se aos meninos do Casalinho. Sem transporte, fomos a correr, tralala, a saltar, tralalala. Hoje os jovens estudantes da terra continuam sem condições razoáveis de transporte para chegar à escola. Passaram muitos anos. Alguma coisa está mal!
Se o que me trouxe para a arqueologia foi, também, querer perceber quem somos e porque seguimos aqui, evoluindo e/ou involuindo, foi esta mesma questão que não vi respondida pelo sistema científico em vigor. De alguma forma percebemos que estamos atados ou armadilhados por sistemas económicos, políticos, religiosos e científicos que nunca estiveram preocupados em servir as comunidades nem os anseios de cada um.
É melhor dar pão e circo e impedir as pessoas de olharem para si mesmas e perceberem que podem ser, sentir, pensar e fazer… em vez de deixar outros fazerem por si, de forma a ficarem obrigados e calados!
E o povo tem medo?! Mas medo de quê? Se enfrentou as tempestades dos primórdios, se aguentou percorrer o planeta em busca de comida, se soube guiar-se pelas estrelas, se soube guardar-se dentro da terra e erigir templos e atravessar mares salgados… e manter-se apesar das infestações a que foi submetido desde quase sempre. Medo de quê?
Se sempre soube reacomodar-se sempre que havia invasão ou alguma escassez o obrigava a espernear e expandir-se para os lados? Já que nasceu e está aqui, porque não achar-se digno e lutar pelos direitos que são seus?!
Importa conhecer os locais onde a humanidade se manifestou ao longo do tempo e entender o que se passou no decorrer das épocas. Esse saber permite-nos exatamente sentir-se parte de um Todo, desde sempre e até agora, aqui e noutros lados. E ser empoderado pela pertença. É que noutro tempo, as pessoas, mesmo que aperreadas por um velho sistema que criou Importantes e Irrelevantes, esforçaram-se para que estivéssemos aqui hoje a vencer e dizer adeus à desigualdade!
Por isso importa conhecer o passado, localizando e enumerando e trazendo à luz do dia sempre novos dados, para que se perceba onde estivemos no início e para onde caminhamos e como andamos ou parámos ou fugimos ou marchamos. Quem somos? De que cerne somos feitos? Onde partimos os seixos para caçar e pescar? Com quem negociámos? Que loiças trocámos? Desde o princípio. Cada um deles, parte de nós. Como nascemos? Não apenas o Importante, fazedor de estórias, mas O que importa: cada UM de Nós!
E depois avaliarmos ao som de que música conseguimos dançar e queremos continuar. Porque, olhando para as lutas que temos tido todos os dias pergunto: desde há muito, de quem fugimos quando não escolhemos o melhor para nós? Contra quem lutamos quando entregamos o nosso poder de escolha e cedemos o que é nosso por direito a quem não o gere para nosso melhor benefício?

Sou MOVE – Movimento Independente

Jaquelina Pereira

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