segunda-feira, março 29, 2021

Desertificação das nossas aldeias

Apesar de se pretender identificar como um concelho do Litoral, imune a muito do que se passa no Interior do país, o que é facto é que essa “imunidade” não existe. De facto, quando falamos em envelhecimento da população ou em desertificação do território, Ourém, à semelhança do Interior, sofre fortemente deste fenómeno altamente penalizante a diversos níveis. Contudo, este problema no nosso concelho não é sentido da mesma forma em todo o território. Enquanto freguesias como Fátima ou Nossa Senhora da Piedade continuam a crescer em termos demográficos, ou outras como Caxarias, Alburitel, Atouguia e Nossa Senhora das Misericórdias têm conseguido resistir, há também aquelas onde as perdas populacionais são assustadoramente graves. Todas as freguesias a norte do concelho, a que se juntam as freguesias de Espite, Matas, Cercal e Seiça, têm vindo a sofrer quebras de população gigantescas. Os últimos censos disponíveis (2011) já indicavam isso, e os censos de 2021 demonstrarão que este problema se agravou ainda mais. E se analisarmos alguns lugares que até à década de 1980 ou 1990 gozavam de pujança, mesmo após a “sangria” da emigração das décadas de 1960/70, atualmente estão quase desertos, e em menos de 10 anos poderão mesmo desaparecer.

Não se compreende como é que as autoridades municipais pouco ou nada fazem para impedir esta situação. A maioria destas aldeias tem estado votada ao abandono por quem tem a missão, ou melhor, a obrigação por zelar pelo bem-estar de todos. Há necessidades básicas que não estão satisfeitas em inúmeras aldeias como se estas pertencessem a um país subdesenvolvido. E não é por falta de recursos ou de meios – é sobretudo por falta de critérios de sensatez e de equilíbrio na gestão e distribuição dos ditos recursos.

Temos um concelho fortemente desequilibrado e um concelho desequilibrado não é um concelho saudável. Se alguém estiver com metade do corpo no forno do fogão e a outra metade no congelador, a temperatura média pode ser boa, mas essa pessoa não estará certamente confortável. Temos que entender o concelho de Ourém como o corpo de uma pessoa – cada parte do corpo até pode necessitar de cuidados específicos, mas não podemos centrarmo-nos unicamente no penteado do cabelo ou na maquilhagem do rosto, esquecendo-nos de algo tão básico como uns sapatos para os pés.

Um corpo com tratamento equilibrado de todas as suas partes é certamente mais saudável… um município também.

Paulo Nunes
Apoiante de Ourém, apoiante dos Oureenses, apoiante do MOVE Freguesia de Rio de Couros e Casal dos Bernardos

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