terça-feira, janeiro 12, 2021

Valor

Como alguns de vós saberão, sou economista de formação e consultor de empresas de profissão, e isso dá-me alguma sensibilidade para falar de valor… e é disso que falarei hoje aqui.

Começo por dizer que a noção de valor é das mais difíceis de explicar. Há muitas vezes a tendência para definir valor pela sua tradução em termos monetários. Contudo, esta é uma forma muito reduzida e limitada de noção de valor. Quanto é que algo vale para mim não tem que ter necessariamente uma tradução monetária, em Euros. O valor sentimental é o caso mais evidente de um tipo de valor sem tradução ou de muito difícil tradução monetária.

E porque trouxe este tema para aqui? Para poder referir áreas, coisas, ou locais de grande valor para cada um de nós, e que muitas vezes é esquecido ou desvalorizado. Esquecido porque muitas vezes se esquece que o valor não monetário pode ser muito maior do que o valor monetário. Vou centrar-me aqui em dois exemplos gerais e muito abrangentes: o património e a cultura.

Património: uma escola primária desativada no meio de uma pequena aldeia, uma fonte no meio do campo ou à beira da estrada, uma capelinha ou um cruzeiro, tem por vezes um valor extraordinário para as pessoas daquela aldeia ou daquela freguesia. Os poderes autárquicos são muitas vezes tentados a “olhar” apenas para o que é mais visível, mais grandioso, e a esquecer o menos visível, escondido na pequena aldeia, mas que para as gentes daquele local vale tanto como se um grandioso e histórico monumento se tratasse. Para o habitante de uma pequena aldeia, uma pequena fonte onde tantas vezes matou a sede, tem o valor de uma catedral.

Cultura: muitas vezes reduz-se o conceito de cultura a uma área muito específica e limitada – a cultura de cariz mais erudito, onde se juntam as artes. Esquece-se assim toda a cultura genuína das pessoas comuns, do povo, a cultura das tradições, do folclore. Cultura é também os arraiais, os cortejos, os bailaricos, os ranchos folclóricos, os jogos tradicionais, a gastronomia típica do povo, as feiras, o artesanato, as descamisadas, as vindimas, o nosso vinho medieval feito em cada casa. Qual o valor que se perde se não se preservar esta cultura tão nossa. Uma sinfonia do melhor compositor, um bailado dos melhores bailarinos, um quadro do pintor mais famoso, uma representação teatral dos melhores atores, são sem dúvida coisas grandiosas, de valor incalculável. Mas para a pessoa comum, é igualmente grandioso e de valor incalculável escutar uma banda filarmónica, assistir à atuação do rancho folclórico, assistir a uma representação de miúdos lá da aldeia…

Não quero de forma nenhuma dizer que o que é erudito, ou o que é património grandioso, não deva ser incentivado, preservado, enriquecido, apoiado. O que quero dizer é que também deve ser igualmente incentivado, preservado, enriquecido, apoiado, o que do ponto de vista da pessoa comum é também grandioso e com valor incalculável.

Paulo Nunes
Apoiante de Ourém, apoiante dos Oureenses, apoiante do MOVE
Freguesia de Rio de Couros e Casal dos Bernardos

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