A pedagogia na política é um
assunto da maior importância e actualidade.
Na verdade, a pedagogia,
independentemente do órgão de que se fale, não é uma questão menor que possamos
descuidar no exercício da actividade política.
Se é verdade que a pedagogia não
é um conceito estanque ou privatístico da política, mas transversal a toda a
vida em sociedade (por exemplo, temos de ser pedagógicos com os nossos filhos;
os nossos gestores de empresas têm de ser pedagógicos com os seus
colaboradores; a cultura deverá ser pedagógica para quem a aprecia; o treinador
tem de ser pedagógico com os seus atletas; etc.), não deixa de ser menos
verdade que a pedagogia ganha uma maior acuidade quando tratamos da gestão da
“coisa pública”.
Isto porque política não
significa apenas a luta pela conquista e manutenção do poder, mas também o
exercício desse poder de forma competente, equilibrada e justa, com um pendor
pró-activo, construtivo e pedagógico.
Usar de pedagogia na política é
igualmente um imperativo do nosso tempo.
Não podemos escamotear o
descrédito latente que existe em relação à classe política, nem o
descontentamento generalizado que existe entre as pessoas, nem sequer a quebra
de confiança, nem até mesmo a grande incógnita que sentimos quando olhamos para
o nosso futuro.
Para contrariar este estado de
coisas do ponto de vista da acção política, temos de conseguir esta coisa
fantástica e esplendorosa que é “aprender a educar através da política”.
Quando, por exemplo, esperamos
de um polícia que ele seja mais pró-activo e didáctico do que propriamente um
mero “passador de multas”, não seria também interessante esperarmos isso de
quem nos governa?
Claro que vão todos dizer: mas
isso todos esperamos!
E não deixam todos de ter razão.
Todavia, para além de já quase
ninguém acreditar nisso, existe uma diferença entre o “esperar” e o “ser”. Ou,
dito de outro modo, esperar que os políticos sejam pedagógicos e constatar que
efectivamente o não são, são coisas completamente distintas.
E a verdade nua e crua é que
infelizmente a grande maioria não o é.
Ora, o que está aqui em causa
verdadeiramente é a questão de saber se vale ou não a pena “aprender a educar
através da política”.
Julgo que, mais do que necessário,
é fundamental e decisivo.
Se a acção política não tiver
este complemento de pedagogia, de ensinamento e aprendizagem – que não deixa de
ser também a valorização do próprio papel da cidadania –, penso que muito
dificilmente nos desenvencilharemos desta “apatia democrática” em que todos
caímos e nos encontramos mergulhados há demasiado tempo, por já não termos
pinga de sangue ou réstia de esperança que nos valha.
Inverter este estado de coisas
é, portanto, o desafio que temos todos pela frente, até porque o que está aqui
em causa é também uma questão de moralidade, de ética e de justiça social.
São valores que se aplicam não
só a quem detém e exerce o poder, como também àqueles a quem o mesmo se dirige
e se aplica, ou seja, a todos nós.
Neste sentido, todos somos
co-responsáveis por levar a bom porto e concretizar esta difícil missão, que
não é, todavia, impossível.
Só que não nos esqueçamos que
bom seria se o exemplo pudesse partir de cima, obviamente sem prejuízo de os
cidadãos não enjeitarem a sua quota-parte de responsabilidade.
Por isso, já vai sendo tempo de
a classe política empreender algo absolutamente virtuoso, que desperte a
curiosidade e o interesse das pessoas e as motive para a participação na vida
pública.
Bem sei que “a cobardia é surda
e só ouve o que convém”, mas, à falta de outra solução qualquer, não tenhamos
medo de socorrer-nos da pedagogia e fazer dela uma arma poderosa ao serviço dos
políticos e da política, mas também das pessoas.
Haja quem dê o primeiro passo e
nos dê a primeira lição.
Certamente que todos vão agradecer.
Maria José de
Almeida
Membro do MOVE
– Movimento Independente
Freguesia de Nª
Sª da Piedade