São
duros os calcários onde nasce, finos os solos das suas margens e frescas as
águas do Agroal, onde desagua na margem direita do Nabão.
Escrever
sobre a Ribeira de Seiça é falar da sua nascente na Fonte da Pena, Moita
Redonda, de todo o vale torrencial de Alvega, da ribeira das Silveira, que
contorna o sopé do lindo Castelo de Ourém e que se junta com a Ribeira de
Alvega imediatamente a jusante da capela de São Sebastião, deixando-a ente os
seus braços!
Daí
seguem juntas rumo a Ourém, tornando-se uma ribeira de água permanente, com
margens agrícolas apelativas e férteis, acolhendo quintas e povoados. Recebe a
drenagem das encostas do Vilar, Valada, Alburitel. Passa por Seiça, localidade
que lhe dá nome, perdendo-o assim que é atravessada pela linha férrea e o
limite do concelho para passar a chama-se Ribeira da Sabacheira e a percorrer o
Concelho de Tomar.
Os matos
mediterrâneos nos calcários da serra ao longo da Fátima e da Atouguia dão lugar
a uma galeria ripícola de choupos, freixos, salgueiros e amieiros, no vale de
solos férteis, é frequente a presença de plátanos trazidos por donos de quintas
algumas com brasão.
Tenho
tido o privilégio de passar algum do meu tempo nas suas margens na zona de
Seiça.
Animada
pela presença da beleza azul e laranja do guarda-rios, que voa sobe a ribeira e
olha diretamente o leito. O esquilo, que quando há nozes, não se esconde na sua
tarefa de as recolher. Os Corvos, as rolas, e a outra passarada vão cantando
conforme o sentir do dia, as cigarras refrescam-se com música e se o calor for
muito a música pode ser ensurdecedora...
A águia
voa por ali, de vez em quando.
Mas a
magia manifeste-se no seu auge, ao fim da tarde, quando a luz fica dourada
sobre as folhas das árvores altas e a garça cinzenta, passa no seu voo real, ao
silêncio e quietude do seu voo, o ar fica cheio de paz. Também eu me silêncio
totalmente...só o olhar acompanha o ritual do seu mergulho majestoso para
apanhar a sua lampreia dos riachos, ou outro peixinho, e suavemente janta,
retirando-se para o reino misterioso das aves mágicas. Inspiro, volto para casa
sabendo que tudo está bem.
Mas este
Agosto começou num sábado, triste... Os peixes que na sexta sobreviveram à
Garça, estavam mortos no rio, as lampreias e os ruívacos mortos, a água tinha
um cheiro diferente, procurei por vida em forma de peixes, mas só encontrei os
lagostins, desde aí não voltei a ver mais nenhum peixe morto, mas também não
voltei a ver vivos...
E a
Garça só a vi mais uma vez, talvez tenha vindo matar saudades e dizer que pesca
num outro lugar.
A
lampreia dos riachos, Lampetra planeri, é uma espécie em risco, na Península
Ibérica apenas são conhecidas duas populações: na ribeira de Seiça e no Rio
Olabidea em Navarra!
O que se
passou, não sei ao certo, houve certamente uma fonte de poluição aguda, sei que
é preciso estarmos todos atentos...
Pode ter
sido uma descarga de uma fábrica, uma lavagem de alguma coisa no rio com
produtos altamente poluentes.
A ETAR
de Seiça, situada a jusante daqui já no concelho de Tomar, tem sido uma fonte
grande de poluição desta ribeira e do Nabão, esta ETAR serve a população do
nosso Concelho!
Quando
empobrecendo um ecossistema, todos ficamos mais pobres. Já deixamos uma pegada
ecológica tão pesada, na nossa forma de vida, que este tipo de crimes é
inaceitável.
Se não
deixarmos peixes nos rios, os nossos filhos não saberão pescar... e a Garça no
seu voo de paz, onde está?
Anabela
Henriques Pereira
Apoiante
do MOVE