Emergência cívica
O texto que se segue foi publicado na Edição de 20 de Junho de 2014 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.
"Coluna do Meio
Emergência cívica
Decorreu no passado dia
2 do corrente a 1ª Conferência subordinada ao tema “Que país teremos em 2020?”,
enquadrada na passagem dos quarenta anos sobre o 25 de Abril, um debate
intergeracional que pretendeu dar pistas e encontrar soluções para o futuro de
Portugal, trazendo ao Auditório dos Paços do Concelho uma vasta plateia que se
revelou atenta e participativa, e que teve como oradores convidados os
Professores Doutores Diogo Freitas do Amaral e Joel Hasse Ferreira, para além do
Dr. Telmo Faria, ex-presidente da Câmara Municipal de Óbidos. Não posso deixar
de salientar a importância e a actualidade do tema desta conferência, que nos
remete para uma questão “simples” mas crucial: o que queremos afinal para nós,
em termos nacionais e europeus? O que queremos ser, enquanto país, daqui a dez
ou quinze anos?
Um dos temas abordados
pelo ilustre painel de oradores teve a ver com o novo quadro
político-institucional decorrente das recentes eleições europeias, mormente a
“invasão” da extrema-direita na Europa, fenómeno que começa a alastrar e a ganhar
cada vez mais expressão no “Velho Continente”, e que reflecte, designadamente,
a também crescente descredibilização dos partidos políticos, o seu
distanciamento em relação às pessoas e, por via disso, o facto de os europeus,
mas também os portugueses, se reverem cada vez mais nas pessoas e não nos
partidos. Assim se explica, no caso português, a emergência dos movimentos de
cidadãos, como o Movimento Partido da Terra (MPT) e o seu cabeça de lista, Dr.
Marinho Pinto, o qual foi a quarta força política mais votada em Portugal
(elegendo dois deputados) e a terceira no concelho de Ourém, onde obteve 6,51%
dos votos (na freguesia de Nossa Senhora da Piedade obteve 7,92%).
Façamos um pequeno
exercício comparativo para ilustrar um tema recorrente nesta “Coluna do Meio”,
ao qual algumas pessoas chamaram, imprópria e inadvertidamente, “epifenómeno”,
e que se prende com a ascensão dos movimentos de cidadãos à vida política,
enquanto alternativa credível aos partidos. Em Ourém, como é do conhecimento de
todos, essa ascensão foi protagonizada, de forma retumbante e categórica, pelo
MOVE – Movimento Ourém Vivo e Empreendedor, liderado por Vítor Frazão, tendo
arrebatado 11,39% dos votos nas últimas eleições autárquicas. Significa isto
que, quer o MPT de Marinho Pinto, quer o MOVE de Vítor Frazão, têm hoje um
papel preponderante nas sociedades europeia e portuguesa, não só para
contrariar a perda de confiança dos cidadãos em relação à política, mas também
para criar uma nova dinâmica de participação social nas decisões que a todos
dizem respeito. A bem da democracia, esta é uma emergência cívica que urge
consolidar.
Nota de Rodapé: Não
quero, porém, terminar o texto desta semana sem dizer que as expectativas eram
grandes há um ano, quando as páginas deste honroso jornal pariram (tecnicamente
parece ser o termo mais correcto) esta nova coluna de opinião, que se tornou na
“Coluna do Meio” por duas simples mas importantes razões: a primeira, porque as
colunas da esquerda e da direita já se encontravam ocupadas; a segunda, porque
costuma-se dizer que é no meio que está a virtude. Facto é que já lá vai um ano
– como o tempo passa, parece que foi ontem –, e, à boleia, também celebramos
hoje o texto número cinquenta. Se há um ano um dos objectivos desta coluna de
reflexão era ser construtiva, descomprometida e independente, com um olhar
crítico sobre o nosso concelho nas suas múltiplas vertentes e baseado na firme convicção
de que todos nós podemos contribuir com alguma coisa, por mais insignificante
que seja, para o bem-estar do nosso concelho e das suas gentes, se isto foi
verdade há um ano, certo é que, por maioria de razão, continua a ser assim
ainda hoje. Vale pois a pena continuar".
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