Pessoalmente,
não acho.
Apesar de
concordar que Mário Soares não é uma pessoa impoluta nem imune a críticas (mas,
quem será?), reconheço nele um homem que lutou para que Portugal fosse um país
livre e democrático, respeitador dos direitos, liberdades e garantias dos
cidadãos e mais próspero do que aquilo que foi ao tempo da asquerosa ditadura
do Estado Novo, imposta por essa figura dúbia que deu pelo nome de Oliveira
Salazar.
Assinatura do Tratado de Adesão à CEE Mosteiro dos Jerónimos, 12-06-1985 |
Para os que
falam de boca cheia, para os que têm memória curta e para aqueles que, pela sua
“tenra idade”, pensam que a sua liberdade é um direito perene, que nunca foi posto
em causa e que dão por adquirida a democracia de que hoje desfrutam, deixo aqui
a certeza de que se não fosse também a tenacidade e a acção política de Mário
Soares (entre outros, obviamente), hoje certamente não se orgulhariam de ser
portugueses.
Mário Soares
pode até estar “gagá”, pode inclusivamente ser inoportuno aquando das suas
investidas contra o “establishment” e
o poder instituído, mas não nos esqueçamos de fazer este simples raciocínio
comparativo: ao analisarmos o Portugal de hoje e o Portugal, por exemplo, dos
anos setenta e oitenta do Século XX, ninguém encontra diferenças?
Entre
vivermos integrados numa união de estados europeus, apesar de tudo livres e
democráticos, e sermos um estado retrógrado e pretensamente imperialista, eu continuo
a preferir a primeira hipótese.
E se me
perguntarem quais são os políticos que mais marcaram – cada um à sua maneira – a
vida democrática do nosso país, não me repugna e não hesito sequer um segundo
em nomear três: Sá Carneiro, Álvaro Cunhal e, claro está, Mário Soares.
Seja qual
for a perspectiva em que nos centremos, ele continua a ser um dos “pais
fundadores” da nossa democracia, tal como hoje a conhecemos.
Este é um
facto incontornável da nossa história, facto que todos temos o dever de
respeitar e do qual nos devíamos sentir tremendamente orgulhosos.
Mas, o mais
curioso ainda é o contra-senso que impende sobre todos aqueles que regurgitam a
sua raiva em cima de Mário Soares, é vermos que a liberdade que eles hoje têm
para o criticar advém precisamente da contribuição que o próprio deu para o fim
da ditadura e do fascismo que “amordaçou” Portugal por quase cinquenta anos.
Escamotear
ou ignorar este facto, é não sabermos compreender a história política do país
em que vivemos. E isso é motivo bastante para nos fazer pensar e nos deixar apreensivos
quanto àquilo que nos caracteriza enquanto povo.
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