A pedagogia na política
O texto que se segue foi publicado na Edição de 29 de Novembro de 2013 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.
"Coluna do Meio
A pedagogia na política
A semana passada falei
sobre a pedagogia na assembleia. Pois bem, esta semana irei falar sobre
pedagogia na política. Na verdade, a pedagogia, independentemente do órgão de
que se fale, não é uma questão menor que possamos descuidar no exercício da
actividade política. Sendo certo que a pedagogia não é um conceito estanque ou
privatístico da política, mas transversal a toda a vida em sociedade (por
exemplo, temos de ser pedagógicos com os nossos filhos; os nossos gestores de
empresas têm de ser pedagógicos com os seus colaboradores; a cultura deverá ser
pedagógica para quem a aprecia; o treinador tem de ser pedagógico com os seus
atletas; etc.), ela, a pedagogia, ganha, porém, uma maior acuidade quando
tratamos da gestão da “coisa pública”, desde logo porque política não significa
apenas a luta pela conquista e manutenção do poder, significa também o
exercício desse poder não só de forma competente, equilibrada e justa (como
seria normal), mas também com um pendor pró-activo, construtivo e, claro está,
pedagógico.
Usar de pedagogia na
política é, igualmente, um imperativo do nosso tempo. Não podemos escamotear o
descrédito latente que existe em relação à classe política, nem o descontentamento
generalizado que existe entre as pessoas, nem a quebra de confiança, nem até
mesmo a grande incógnita que sentimos quando olhamos para o futuro. Para
contrariar este estado letárgico da acção política, temos de conseguir esta
coisa fantástica e esplendorosa que é “aprender a educar através da política”.
Quando, por exemplo, esperamos de um polícia que ele seja mais pró-activo e
didáctico do que propriamente um mero “passador de multas”, não seria também
interessante esperarmos isso de quem nos governa? Claro que me vão dizer: mas
isso todos esperamos! Não deixam de ter razão. Todavia, para além de já (quase)
ninguém acreditar nisso, existe uma diferença entre o “esperar” e o “ser”. Ou,
dito de outro modo: esperar que os políticos sejam pedagógicos e constatar que
efectivamente o não são, são coisas completamente distintas. E a verdade nua e
crua é que, infelizmente, a grande maioria o não é.
Ora, o que está aqui em
causa verdadeiramente é, sobremaneira, a questão de saber se vale ou não a pena
“aprender a educar através da política”. Tenho para mim que, mais do que
necessário, é fundamental e decisivo. Se a acção política não tiver este
complemento de pedagogia, de ensinamento e aprendizagem – que não deixa de ser
também a valorização do próprio papel da cidadania –, penso que muito
dificilmente nos desenvencilhamos desta “apatia democrática” em que todos
caímos e nos encontramos mergulhados há demasiado tempo, por já não termos
pinga de sangue ou réstia de esperança que nos valha.
Inverter este paradigma
é, portanto, o desafio que temos todos pela frente, até porque o que está aqui
em causa é também uma questão de moralidade, de ética e de justiça social. São
valores que se aplicam não só a quem detém e exerce o poder, como também
àqueles a quem o mesmo se dirige e se aplica, ou seja, a todos nós. Neste
preciso sentido, todos somos co-responsáveis por levar a bom porto e
concretizar esta difícil missão, embora não impossível. Só que, não nos
esqueçamos, que bom seria se o exemplo pudesse partir de cima, obviamente sem
prejuízo de os cidadãos não enjeitarem a sua quota-parte de responsabilidade.
Por isso, já vai sendo tempo de a classe política empreender algo absolutamente
venturoso, que desperte a curiosidade e o interesse das pessoas e as motive
para a participação na vida pública. Bem sei que “a cobardia é surda e só ouve
o que convém”, mas, à falta de outra solução qualquer, não tenhamos medo de nos
socorrer da pedagogia e fazer dela uma arma poderosa ao serviço dos políticos e
da política, mas também das pessoas. Haja quem dê o primeiro passo e nos dê a
primeira lição… Todos agradecem".
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