Amor com amor se paga
O texto que se segue foi publicado na Edição de 6 de Dezembro de 2013 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.
"Coluna do Meio
Amor com amor se paga
Agora que a poeira já
baixou em relação ao famoso gabinete 2.6 da CMO, em que todos tiveram
oportunidade de exprimir as suas doutas opiniões – incluindo eu –, julgo que
agora talvez valha mais a pena nos concentrarmos naquilo que é feito em prol
dos oureenses, independentemente se estamos ou não num gabinete da CMO, no
trabalho ou em casa.
Antes, porém, creio que
é importante dizer que esta questão tem, logo à partida, este enviesamento
jurídico: a lei refere que o presidente da câmara deve disponibilizar a todos
os vereadores os recursos físicos, materiais e humanos necessários ao exercício
do respectivo mandato, devendo, para o efeito, recorrer preferencialmente aos
serviços do município (nº 7 do artº 42º do Decreto-Lei 75/2013, de 12 de
Setembro). Acontece que também já era assim, por exemplo, a partir de 1999, com
a entrada em vigor da Lei 169/99, de 18 de Setembro (ver nº 5 do artº 73º). Quer
isto dizer que esta “recomendação” que a lei faz – ao referir que “o presidente
da câmara municipal deve disponibilizar a todos os vereadores…” –, já existia
ao tempo em que o PSD geria os destinos da autarquia oureense, e não se
conhecem registos de que o executivo camarário tenha alguma vez disponibilizado
o que quer que fosse aos vereadores da oposição eleitos, à época, igualmente de
forma legítima e democrática.
Por outro lado, é
importante não esquecer que a lei não impõe, de forma imperativa, que os
presidentes da câmara disponibilizem aqueles recursos aos vereadores da
oposição, bastando-se por afirmar que aqueles recursos devem ser
disponibilizados, tão-só e apenas na medida das possibilidades, físicas,
técnicas, humanas, financeiras, de que as câmaras poderão dispor. Não se trata,
portanto, de uma imposição taxativa da lei. É, aliás, por certo neste espírito
que, alegadamente, se pode ler no Estatuto do Direito de Oposição nas
Autarquias Locais (documento do PSD nacional, da autoria de Pedro Oliveira
Pinto) o seguinte: “Por último, importa referir que tem sido prática corrente
das Câmaras Municipais facultarem aos membros dos seus executivos que não detêm
pelouros, vulgar e impropriamente designados como membros da «oposição»,
condições adequadas para o exercício das suas funções, designadamente gabinetes
próprios e apetrechados com os meios logísticos necessários (telefone,
equipamento informático com acesso à Internet, etc.), com o fundamento dessa
disponibilidade resultar do Estatuto do Direito de Oposição. Nada mais falso,
como é óbvio, porquanto, como se verifica, não são os mesmos titulares do
Direito de Oposição”.
Entretanto, é do
conhecimento público que o presidente da Câmara Municipal já disponibilizou uma
sala no antigo edifício dos Paços do Concelho, tendo esta sido rejeitada pelos
vereadores da Coligação, sob o argumento de que essa sala deveria ser no novo
edifício e não no velho, à semelhança do que se passa com a localização do tal
gabinete 2.6 do vereador independente do MOVE. De tudo isto, resulta por demais
evidente que há aqui uma mera questiúncula menor, um ressabiamento recalcado,
que nada tem a ver com a atribuição do gabinete em si – até porque o PSD não se
pode queixar porque também nunca disponibilizou nada a ninguém –, mas apenas
pelo facto de ter sido disponibilizado a quem foi e nas circunstâncias em que
ocorreu (refiro-me à sequência cronológica que começou com o resultado obtido
pelo MOVE nas eleições, passou depois pelo compromisso de governabilidade
assinado com o PS, acabando na disponibilização do célebre gabinete ao vereador
Vítor Frazão). Pela minha parte, entendo que se o vereador independente do MOVE
tem um gabinete de trabalho, pois tanto melhor. Não é isso que me choca. O que
me choca profundamente é ver que algumas pessoas apenas gostam de receber e
nunca dão nada em troca. Como dizia o outro: “amor com amor se paga”.
Sem comentários:
Enviar um comentário