A bagunça
O texto que se segue foi publicado na Edição de 10 de Outubro de 2014 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.
"Coluna do Meio
A bagunça
Após este curto período
de férias e de uma pausa para café, brindo hoje os estimados leitores com a
esperança de que tenham tido um bom regresso, tenham carregado convenientemente
as baterias e se preparado para voltar à carga e chocar com a triste e
enfadonha realidade que nos cerca.
É verdade, o mundo e o
país vão de mal a pior, mas, o que é mais grave e inquietante, não se vê
nenhuma alternativa para sair deste impasse em que nos encontramos. Na Europa é
o que se vê. Depois dos chamados países do sul, apelidados erraticamente de
PIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), depois de terem servido de
laboratórios das alegadas grandes potências europeias e da especulação
económico-financeira, de entre as quais a Alemanha à cabeça, eis senão quando é
agora a vez dessas tais grandes economias atravessarem um período de estagnação
ou mesmo de recessão (vejam-se os casos “emblemáticos” da França e da própria
Alemanha, quem diria…). Para além disso, não se vê réstia de discussão em torno
das grandes questões estruturantes do projecto europeu, todas elas a marcar
passo, seja por inércia das actuais lideranças políticas europeias, seja por
pura incompetência, seja ainda porque isso lhes serve de feição e lhes aguça os
interesses.
Isto, para já não falar
na questão dos “poderes autonómicos” da Catalunha e da Escócia, que são
fenómenos que ainda estão por demonstrar no actual quadro da União Europeia,
cujo assunto me merece, por isso, algumas reservas e uma certa prudência, ou
também na questão da emergência das facções da extrema-direita (de que o caso
francês é apenas um exemplo), ou ainda nas questões da fome ou da ameaça do
fanatismo religioso e do terrorismo à escala global.
Estes fenómenos
repercutem-se pelo mundo e por toda a Europa, e, como é evidente, alastram-se a
pequenos países mais vulneráveis como Portugal. A situação agrava-se ainda mais
quando nestes países se continua a viver a braços com a pequenez forçada por
uma pseudo-elite deslumbrada, subserviente e provinciana.
Pensarmos nós que já
tínhamos visto tudo, e “catrapum”, somos sacudidos com nova intempérie, desta
feita a promessa de que a promiscuidade absolutamente criminosa que existe, já
não sei se entre os negócios e a política ou se entre a política e os negócios,
vai finalmente acabar no nosso país! Uau, parece que, de uma vez por todas,
vamo-nos ver todos livres dos montes de lixo e de sucata que nauseabunda por
aí. O problema, bem o problema é que a política está hoje transformada num
gigantesco e mal cheiroso “negócio”, e ao acabar-se com o “negócio” acaba-se
com a própria política! É como se eu acabasse com aquilo que me sustenta! Era seguramente
o fim. Custa-me a crer é que ainda haja alguém que acredite numa idiotice destas
e caia nesta esparrela.
Enquanto o pau vai e
vem, como se costuma dizer, é confrangedor ver a forma resignada com que muitos
portugueses estão a encarar (talvez) um dos momentos mais graves da história
política, económica e social do nosso país. O tempo não está, todavia, para
resignações nem bagunças. Oxalá quando decidirmos agir não seja já tarde demais,
e precisemos que seja a Europa a vir-nos salvar, ou então um qualquer Dom
Sebastião, um intrépido paladino travestido de Salazar que vista a pele de cordeiro
e se autoproclame Salvador desta tão ilustre Pátria Lusitana".
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