O 1º de Maio em menino
O texto que se segue foi publicado na Edição de 2 de Maio de 2014 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.
"Coluna do Meio
O 1º de Maio em menino
Ainda sob os auspícios
da liberdade e da democracia restauradas no dia 25 de Abril de 1974, que
puseram termo a um longo calvário de quarenta e oito anos de ditadura, o 1º de
Maio, por sua vez, aparece-me na memória no dealbar da minha mocidade.
Eram os anos setenta do
século passado, e era o tempo das manifestações, dos comícios e dos piqueniques
nos pinhais, um tempo em que era para mim uma alegria poder rumar a Lisboa em
“caravana” para fazer parte de todos aqueles acontecimentos. Lá no fundo, sabia
que aqueles ajuntamentos ordeiros de pessoas, que gritavam palavras de ordem e
agitavam bandeiras, estariam ali por algo, mas, confesso, nas primeiras
“manif’s” de que tenho memória, ainda não me era completamente perceptível todo
o seu significado.
Como disse há uma
semana, cedo, porém, comecei a perceber que aquelas pessoas tinham de ter um
motivo suficientemente forte para se deslocarem para uma manifestação, e esse
motivo era a necessidade de celebrarem a liberdade, mas também para exigir mais
democracia, mais igualdade e fraternidade entre todos os portugueses. Convém
não esquecer que tínhamos deixado para trás quase meio século de ditadura e
começávamos a dar os primeiros passos na consolidação do regime democrático,
cujo processo de transição foi, como sabemos, extremamente difícil (lembremos,
só a título de exemplo, o que ficou conhecido pelo “Verão Quente” de 1975 – o
PREC ou Período Revolucionário em Curso –, os governos que duravam escassos
meses e que se iam sucedendo uns aos outros ou as Forças Populares 25 de
Abril).
Tanto agora como
naquele tempo, as manifestações do 1º de Maio – o Dia do Trabalhador –
transformam-se numa “jornada” de luta, em que as pessoas (trabalhadores e
população em geral) saem para a rua para manifestar o seu descontentamento, não
só em relação ao modo como o país é governado e de como isso as afecta, como
também em relação às precárias condições económicas e sociais que o Estado lhes
proporciona (como é o caso da reivindicação de melhores condições de trabalho).
Foi assim nos primeiros anos a seguir ao 25 de Abril de 1974, e continua a ser
assim, infelizmente, hoje em dia. E também parece certo que as motivações das
pessoas, nas duas épocas, são semelhantes, senão as mesmas.
Bem vistas as coisas,
consigo ainda reter na memória aquele tempo em que era uma alegria para mim fazer
parte de todas aquelas manifestações, comícios e piqueniques. Só que essas
lembranças não são tanto sobre a diversão que estes momentos me proporcionavam,
mas antes sobre as mensagens que eles me transmitiam. Como por exemplo, perceber
não só que todos os manifestantes estavam ali na mesma “luta”, com a mesma
camaradagem e objectivo, mas também que o que move as pessoas e as faz reivindicar
o seu destino é intemporal e perpassa gerações. Certamente que, neste contexto,
este 1º de Maio não será muito diferente dos 1ºs de Maio a que fui em menino".
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