A força da liberdade
O texto que se segue foi publicado na Edição de 25 de Abril de 2014 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.
"Coluna do Meio
A força da liberdade
Assinalamos hoje o
quadragésimo aniversário da Revolução dos Cravos de 1974 e, à pergunta
celebrizada por Batista Bastos “onde é que eu estava no 25 de Abril?”, terei
forçosamente que responder: não sei!
Na verdade, sei que já
estava neste mundo, tinha apenas dois anos e, muito provavelmente, encontrava-me
no regaço protegido e aconchegante dos pais. Certamente alheio ao que se
passaria à minha volta, não tenho nenhuma memória, com muito pena minha,
daquilo que foram as primeiras horas ou a alvorada da liberdade em Portugal.
Cedo, porém, comecei a ouvir e a perceber o que significava aquela palavra –
liberdade –, mas também o que queria dizer democracia.
De facto, muito por
força de ter crescido num ambiente onde eram constantes as reuniões e as
discussões que os adultos mantinham sobre política, fui ouvindo as mais
diversas histórias de como as pessoas viviam no tempo da ditadura. Ouvia que os
nossos pais tinham experienciado o racionamento e as “bichas” para adquirir os
alimentos (por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial), que a PIDE perseguia
e prendia todos aqueles que se dispusessem ou tivessem a ousadia de dizer ou
escrever o que pensavam (convém não esquecer que o concelho de Ourém era famoso
nacionalmente por acolher “altas patentes” da PIDE, assim como outros tantos
“bufos” ou “informadores”, e de ser palco, inclusivamente, de reuniões ao mais
alto nível governamental, que decorriam na casa de uma importante família
oureense, e que ainda hoje existe em frente ao antigo hospital), e ouvia também
que a esmagadora maioria da população portuguesa não tinha acesso aos cuidados
mais básicos, de saúde, educação, protecção social, e que nem o próprio Estado
lhes garantia direitos fundamentais, como a liberdade de expressão, a
participação democrática ou o exercício pleno da cidadania.
Triste vida a deles,
pensava eu, na minha inocência. Hoje sei, porém, que o seu esforço e as
privações por que foram obrigados a passar constituem a liberdade que nós hoje
temos, e da qual nos devemos orgulhar. E, para isso, temos também que
dignificar os capitães e os valores de Abril, temos de compreender a razão por
que ele existiu, qual o seu significado e a importância que teve (e continua a
ter) para todos os portugueses. O que não devemos dizer é coisas patetas, do
género daquelas que a presidente da Assembleia da República já nos habituou,
como aquela que afirmou recentemente a propósito da ausência dos militares de
Abril nas cerimónias oficiais na Assembleia da República, dizendo que isso era
“um problema deles”! Não sei, mas algo nesta senhora não bate certo, e faz-me
lembrar o meu já saudoso tempo de menino.
Finalmente, por falar
em homenagem e reconhecimento pelos quarenta anos do 25 de Abril, vale a pena
recordar aqui as celebrações dos cinquenta anos da criação da freguesia de
Casal dos Bernardos (cujo decreto de criação é o 45.669, de 18 de Abril de
1964), cerimónia que decorreu no passado fim-de-semana e na qual foram
homenageados os presidentes da Câmara Municipal da era pós 25 de Abril, assim
como os presidentes da junta de Casal dos Bernardos. Nem a propósito, facto
emblemático foi a entrega da distinção feita ao Dr. Vítor Frazão ter saído das
mãos do Sr. Domingos Gonçalves, representante da Assembleia de Freguesia da
União das Freguesias de Rio de Couros e Casal dos Bernardos, eleito nas listas
do MOVE nas últimas eleições.
Em tempo de homenagens
e celebrações, resta-me desejar aos estimados leitores um feliz 25 de Abril, e
uma renovada esperança na força da liberdade".
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