O texto que se segue foi publicado na Edição de 9 de Maio de 2014 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.
"Coluna do Meio
As más-línguas
Nos meses que se
seguiram à realização das últimas eleições autárquicas, assistimos a uma pífia
e insultuosa campanha de difamação contra o MOVE – Movimento Ourém Vivo e
Empreendedor, campanha essa orquestrada por destacadas figuras do PSD/Ourém
(mas não só) e que teve como principal objectivo a descredibilização, a
desmoralização e o enxovalho político de todos os cidadãos e cidadãs livres do
nosso concelho, que ousaram ter a coragem e a predisposição para engrossar as
fileiras do MOVE. Eu próprio senti na pele os efeitos dessa triste e vil
libertinagem, ao ser alvo de uma interpelação pública idiota e grosseira a
escassas horas das eleições, e sem que me fosse dada sequer a oportunidade para
exercer o meu direito de resposta, a qual visou unicamente denegrir a minha
imagem política, numa derradeira tentativa de evitar o que acabaria afinal por
acontecer, ou seja, uma surpreendente e maciça votação no MOVE. Ao olhar para
trás, vejo um partido político afrontado com a horrenda possibilidade de
continuar por mais quatro anos afastado do poder no concelho de Ourém, um PSD
aflito e decrépito, dividido (senão mesmo tripartido), sem rumo, mesquinho,
ressabiado e, acima de tudo, cínico e velhaco, tudo malformações congénitas que
não abonam a favor de ninguém. Figura cimeira e destinatária principal dessa
chacota política (e falo em chacota para não dizer actividade criminosa), foi o
homem a quem devo muito daquilo que sou hoje em termos políticos, e que dá pelo
nome de Vítor Frazão, o mesmo homem a quem foi vilipendiada a honra, o bom nome
e a honestidade intelectual que o caracteriza. Como se em política valesse tudo
e fosse possível dizer tudo e o seu contrário de uma assentada só…
Ora pois bem, Vítor
Frazão foi e continua a ser o rosto do MOVE, razão pela qual todas as críticas,
desde as mais injustas até às mais repugnantes, lhe têm sido dirigidas com
especial “dedicação” e “ternura”. Uma dessas críticas – a todos os títulos
infundada –, prende-se com a alegada falta de actividade política do MOVE logo
a seguir às eleições. É por isso que, erradamente e em jeito de “Cantigas de
Escárnio e Maldizer”, dizem as más-línguas que o MOVE se eclipsou e esboroou na
espuma dos dias, o que não corresponde de todo à verdade. Por aqui se vê não só
o calibre de certos adversários políticos do MOVE, mas também o que acontece
quando ousamos enfrentar o “statu quo”, quando afrontamos a “normalidade” ou
pomos em causa as lideranças dos partidos, ainda que acéfalas, retrógradas e autoritárias.
Neste sentido, esta “Coluna do Meio” é hoje dedicada a todos aqueles que
continuam a carpir sobre o leite derramado, a insistir na maledicência e a
expiar os seus infectos pecados à custa da mentira e da calúnia que regurgitam
sobre os outros. Se acaso não sabem ler, ou se nem sequer sabem interpretar um
texto simples em português, aqui fica mais uma recomendação do MOVE apresentada
na reunião de Câmara da passada terça-feira, dia 6 de Maio. Diz respeito à criação
de um Gabinete de Apoio às Juntas de Freguesia, cujo enquadramento é o
seguinte: a recente reorganização administrativa ditada pelo Governo PSD/CDS
impôs a anexação de freguesias e exigiu não só a reformulação do trabalho, como
também da coordenação entre o município e as juntas de freguesia. O MOVE
defende que um dos objectivos da acção autárquica é valorizar e intensificar a
colaboração entre as juntas e o município. Assim sendo, Vítor Frazão recomendou
a criação de um Gabinete de Apoio às Juntas de Freguesia, o qual deverá 1) promover
um acompanhamento tão próximo e consentâneo quanto possível, dando resposta às
solicitações das juntas; 2) articular, eficazmente, os trabalhos a levar a
efeito nas juntas de freguesia; e 3) satisfazer as exigências e preocupações dos
presidentes de junta que, mais próximos dos munícipes, se debatem com falta de
meios. Este Gabinete irá reforçar a acção do poder local, permitirá conjugar
esforços e facilitar as tomadas de decisão, com benefícios acrescidos para os
munícipes. Posto isto, é caso para perguntar: vós, as más-línguas, percebeis ou
quereis que vos explique melhor?"
O texto que se segue foi publicado na Edição de 2 de Maio de 2014 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.
"Coluna do Meio
O 1º de Maio em menino
Ainda sob os auspícios
da liberdade e da democracia restauradas no dia 25 de Abril de 1974, que
puseram termo a um longo calvário de quarenta e oito anos de ditadura, o 1º de
Maio, por sua vez, aparece-me na memória no dealbar da minha mocidade.
Eram os anos setenta do
século passado, e era o tempo das manifestações, dos comícios e dos piqueniques
nos pinhais, um tempo em que era para mim uma alegria poder rumar a Lisboa em
“caravana” para fazer parte de todos aqueles acontecimentos. Lá no fundo, sabia
que aqueles ajuntamentos ordeiros de pessoas, que gritavam palavras de ordem e
agitavam bandeiras, estariam ali por algo, mas, confesso, nas primeiras
“manif’s” de que tenho memória, ainda não me era completamente perceptível todo
o seu significado.
Como disse há uma
semana, cedo, porém, comecei a perceber que aquelas pessoas tinham de ter um
motivo suficientemente forte para se deslocarem para uma manifestação, e esse
motivo era a necessidade de celebrarem a liberdade, mas também para exigir mais
democracia, mais igualdade e fraternidade entre todos os portugueses. Convém
não esquecer que tínhamos deixado para trás quase meio século de ditadura e
começávamos a dar os primeiros passos na consolidação do regime democrático,
cujo processo de transição foi, como sabemos, extremamente difícil (lembremos,
só a título de exemplo, o que ficou conhecido pelo “Verão Quente” de 1975 – o
PREC ou Período Revolucionário em Curso –, os governos que duravam escassos
meses e que se iam sucedendo uns aos outros ou as Forças Populares 25 de
Abril).
Tanto agora como
naquele tempo, as manifestações do 1º de Maio – o Dia do Trabalhador –
transformam-se numa “jornada” de luta, em que as pessoas (trabalhadores e
população em geral) saem para a rua para manifestar o seu descontentamento, não
só em relação ao modo como o país é governado e de como isso as afecta, como
também em relação às precárias condições económicas e sociais que o Estado lhes
proporciona (como é o caso da reivindicação de melhores condições de trabalho).
Foi assim nos primeiros anos a seguir ao 25 de Abril de 1974, e continua a ser
assim, infelizmente, hoje em dia. E também parece certo que as motivações das
pessoas, nas duas épocas, são semelhantes, senão as mesmas.
Bem vistas as coisas,
consigo ainda reter na memória aquele tempo em que era uma alegria para mim fazer
parte de todas aquelas manifestações, comícios e piqueniques. Só que essas
lembranças não são tanto sobre a diversão que estes momentos me proporcionavam,
mas antes sobre as mensagens que eles me transmitiam. Como por exemplo, perceber
não só que todos os manifestantes estavam ali na mesma “luta”, com a mesma
camaradagem e objectivo, mas também que o que move as pessoas e as faz reivindicar
o seu destino é intemporal e perpassa gerações. Certamente que, neste contexto,
este 1º de Maio não será muito diferente dos 1ºs de Maio a que fui em menino".
O texto que se segue foi publicado na Edição de 25 de Abril de 2014 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.
"Coluna do Meio
A força da liberdade
Assinalamos hoje o
quadragésimo aniversário da Revolução dos Cravos de 1974 e, à pergunta
celebrizada por Batista Bastos “onde é que eu estava no 25 de Abril?”, terei
forçosamente que responder: não sei!
Na verdade, sei que já
estava neste mundo, tinha apenas dois anos e, muito provavelmente, encontrava-me
no regaço protegido e aconchegante dos pais. Certamente alheio ao que se
passaria à minha volta, não tenho nenhuma memória, com muito pena minha,
daquilo que foram as primeiras horas ou a alvorada da liberdade em Portugal.
Cedo, porém, comecei a ouvir e a perceber o que significava aquela palavra –
liberdade –, mas também o que queria dizer democracia.
De facto, muito por
força de ter crescido num ambiente onde eram constantes as reuniões e as
discussões que os adultos mantinham sobre política, fui ouvindo as mais
diversas histórias de como as pessoas viviam no tempo da ditadura. Ouvia que os
nossos pais tinham experienciado o racionamento e as “bichas” para adquirir os
alimentos (por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial), que a PIDE perseguia
e prendia todos aqueles que se dispusessem ou tivessem a ousadia de dizer ou
escrever o que pensavam (convém não esquecer que o concelho de Ourém era famoso
nacionalmente por acolher “altas patentes” da PIDE, assim como outros tantos
“bufos” ou “informadores”, e de ser palco, inclusivamente, de reuniões ao mais
alto nível governamental, que decorriam na casa de uma importante família
oureense, e que ainda hoje existe em frente ao antigo hospital), e ouvia também
que a esmagadora maioria da população portuguesa não tinha acesso aos cuidados
mais básicos, de saúde, educação, protecção social, e que nem o próprio Estado
lhes garantia direitos fundamentais, como a liberdade de expressão, a
participação democrática ou o exercício pleno da cidadania.
Triste vida a deles,
pensava eu, na minha inocência. Hoje sei, porém, que o seu esforço e as
privações por que foram obrigados a passar constituem a liberdade que nós hoje
temos, e da qual nos devemos orgulhar. E, para isso, temos também que
dignificar os capitães e os valores de Abril, temos de compreender a razão por
que ele existiu, qual o seu significado e a importância que teve (e continua a
ter) para todos os portugueses. O que não devemos dizer é coisas patetas, do
género daquelas que a presidente da Assembleia da República já nos habituou,
como aquela que afirmou recentemente a propósito da ausência dos militares de
Abril nas cerimónias oficiais na Assembleia da República, dizendo que isso era
“um problema deles”! Não sei, mas algo nesta senhora não bate certo, e faz-me
lembrar o meu já saudoso tempo de menino.
Finalmente, por falar
em homenagem e reconhecimento pelos quarenta anos do 25 de Abril, vale a pena
recordar aqui as celebrações dos cinquenta anos da criação da freguesia de
Casal dos Bernardos (cujo decreto de criação é o 45.669, de 18 de Abril de
1964), cerimónia que decorreu no passado fim-de-semana e na qual foram
homenageados os presidentes da Câmara Municipal da era pós 25 de Abril, assim
como os presidentes da junta de Casal dos Bernardos. Nem a propósito, facto
emblemático foi a entrega da distinção feita ao Dr. Vítor Frazão ter saído das
mãos do Sr. Domingos Gonçalves, representante da Assembleia de Freguesia da
União das Freguesias de Rio de Couros e Casal dos Bernardos, eleito nas listas
do MOVE nas últimas eleições.
Em tempo de homenagens
e celebrações, resta-me desejar aos estimados leitores um feliz 25 de Abril, e
uma renovada esperança na força da liberdade".