Pela segunda vez, num espaço de pouco mais de um ano,
vejo-me confrontado com a necessidade de vir a público defender a minha honra,
e contradizer de forma veemente a desonesta interpelação pública que me foi
dirigida pela Direcção do CRIO, a qual foi publicada no passado dia 23 de
Janeiro no Jornal Notícias de Ourém.
E, mais uma vez, vejo-me obrigado a recorrer ao meu
Blog para responder publicamente a interpelações de fraca índole que visam a
minha pessoa, não só porque no meu concelho de Ourém as pessoas não têm todas a
mesma liberdade de expressão, mas também porque era muito caro exercer o meu
direito de resposta naquele jornal, e como também não tenho cunhas para o fazer
publicar à borla, não me restou outra alternativa que não esta.
As acusações graves, difamatórias e extemporâneas de
que fui alvo e que vieram agora a público, surgem na sequência de um comentário
que fiz na minha página pessoal do Facebook, no passado dia 3 de Janeiro, e que
dizia o seguinte:
“A ideia original do CRIO - Centro de
Recuperação Infantil Ouriense, ficou a dever-se, entre outros, a um senhor
chamado Luís M. P. Gonçalves Marques (Dr.), o qual foi, por acaso, candidato do
PS à Câmara Municipal de Ourém nas eleições de 16-12-1979. Mas, a ideia da
criação do CRIO é anterior ao 25 de Abril, ainda alguns faziam parte da PIDE e
estavam-se a cagar para os deficientes. O seu a seu dono. Triste gente esta,
sem escrúpulos”.
Como facilmente se
constata, não há nada no texto que faça supor qualquer ataque à Direcção do
CRIO, enquanto órgão COLEGIAL que é, nem sequer à sua honorabilidade, pela
única e simples razão de que eu nunca me dirigi à mesma.
Então, por que raio reuniu a Direcção do CRIO para
defender a honra da instituição, sendo certo que não havia nada para defender, apenas
porque nada lhe havia sido dirigido?
Querem imputar-me o quê?
Querem enganar quem?
Por outro lado, parece
que só a Direcção do CRIO supôs que o referido escrito talvez
tivesse sido elaborado na sequência de uma entrevista dada pelo Presidente da Direcção
ao Jornal Notícias de Ourém (quanta pretensão).
Ou seja, foi a Direcção do CRIO que o afirmou, não fui
eu.
Isto, para já não
falar que o comentário foi feito a título pessoal, proferido numa página
pessoal e, por conseguinte, é aviltante e do mais baixo nível querer-se colá-lo
ao facto de eu exercer actualmente funções públicas na Junta de Freguesia de
Nossa Senhora da Piedade, como se uma coisa tivesse a ver com a outra.
E muito menos se pode
confundir este assunto com o facto de eu ser neste momento, e com muito orgulho
e paixão, professor na Universidade Sénior de Ourém (USO), instituição que nada
tem a ver com estas questões políticas, mas que foi recentemente chantageada no
sentido de eu ser saneado dali para fora!
Anda-se deliberadamente,
e de uma forma muito suspeita, a misturar alhos com bugalhos, e isso é
vergonhoso e não é bom para a saúde da democracia.
Assim sendo, resta-nos a todos chegar à seguinte e triste
conclusão: alguém anda a enfiar a carapuça, mas só enfia a carapuça quem quer.
É um problema de quem a enfia, logo não é um problema meu.
O que é lamentável é que ainda existam algumas
pessoas que se sirvam das instituições que representam para construir joguinhos
e cabalas políticas, destruir adversários políticos ou enxovalhar-lhes o bom
nome na praça pública, tão-só porque convivem mal com a diferença de opiniões,
e como se apenas fossem eles os únicos arautos e fazedores do bem, e os outros
uma mera escumalha que anda perdida por aí.
Estes sim, quais “Velhos do Restelo”!
Por estes dias, ainda acabamos por considerar todos
os políticos sérios e honestos (felizmente ainda os há) uma cambada de
malandros, uns ET’s, uns tipos esquisitos, com ideias estranhas e que são uns
párias da sociedade.
Isto é uma deplorável e clara inversão dos valores.
De qualquer modo, perante afirmações de tão baixa
qualificação, restavam-me apenas duas alternativas: esquecer o assunto e seguir
em frente, ou então apresentar a minha versão dos factos, e ser eu, desta
feita, a ter que vir a público defender a minha honra pela segunda vez, tais as
acusações torpes e levianas que foram escritas a meu respeito.
Esta réplica, serve também para esclarecer os
oureenses, de uma vez por todas, sobre o que é que está aqui verdadeiramente em
causa, e é isso que vamos ver já de seguida.
Desde logo, assumamos sem rodeios que o que está
aqui em causa é uma questão – única e exclusivamente – de contornos políticos. Trata-se
de uma flagrante tentativa de “assassinato político”, sendo, por isso mesmo,
uma questão puramente política. Como tal, é no fórum político que ela tem que
ser tratada, sob pena de se transformar numa “coisa” do “Sistema”.
Com efeito, o que os estimados leitores puderam ler
no jornal Notícias de Ourém foi um inenarrável e execrável enxovalho político,
no qual a minha pessoa foi reduzida a uma figura sem personalidade, sem
princípios nem educação, qual “parasita” da sociedade que nunca fez nada por
ninguém ou pela Causa Pública.
São acusações muito graves, uma matéria séria e de uma
enorme delicadeza, a qual terá, obviamente, de ser justificada em sede própria.
No entretanto, e após reflectir aturadamente sobre
todas estas questões, não pude deixar de encontrar nesta teia mafiosa uma
enorme coincidência.
É que existe aqui um momento temporal que marca um “antes”
e um “depois”, ou seja, o dia 20 de Julho de 2013, precisamente o dia em que,
no Cine-Teatro Municipal de Ourém, foram apresentados oficialmente os
candidatos do MOVE às eleições autárquicas daquele ano, e de entre os quais eu
me incluía.
A verdade é que, antes daquele dia 20 de Julho de
2013, existia o simples cidadão oureense João Pereira, rapaz pacato,
bonacheirão e, sobretudo, inofensivo, que escrevia há anos, mas que ninguém lhe
ligava.
Só que, depois do dia 20 de Julho de 2013, passou a
existir o cidadão político João Pereira, aquele que passou a incomodar, que teve
a ousadia e a coragem de candidatar-se pelo MOVE (qual grupo de independentes
revanchistas e inúteis) à Assembleia de Freguesia de Nossa Senhora da Piedade,
e que, apesar de só ter tido dois meses para preparar a sua candidatura e
apresentar-se ao eleitorado, conseguiu, contra todas as expectativas e
prognósticos, ser eleito e passar a integrar o Executivo desde então.
Se isto aborreceu e continua a aborrecer muito boa
gente?
Claro que sim. Está estampado na cara de muita gente.
E daí à tentativa de “assassinato político” foi um passo…
A tal ponto que, só isso justificou as escabrosas
palavras que me foram dirigidas no dia 27 de Setembro de 2013 sobre uma “estória”
já com mais de três anos de vida e esquecida no baú do tempo, como só isso também
justifica agora as acusações pérfidas, estúpidas e criminosas que me foram
feitas, de forma absolutamente gratuita e leviana.
Como se não houvesse amanhã, e usando palavras
cheias de ódio e vingança, certo é que alguém se expôs ao ridículo ao permitir
que se escrevessem atrocidades como estas:
“A
esse Senhor, a quem poucos ou nenhuns atributos reconhecemos, queremos
recomendar-lhe, em nome do bom senso, e também de elementares princípios de
ética e educação, que antes de entrar neste tipo de considerações tenha a
humildade de se auto-avaliar, e de mostrar o que vale, mormente no que concerne
aos contributos que possa, ou não, ter dado às causas sociais, ou outras,
particularmente àquelas que respeitam aos mais carenciados e fragilizados”.
Esperem lá, mas quem é que telefonou ao candidato do
MOVE à Assembleia Municipal nas eleições autárquicas de 2013, salvo erro no
próprio dia em que foi anunciado publicamente, ou quando muito logo no dia a
seguir, ainda o senhor estava na Alemanha em missão oficial?
Quem é que lhe ligou para denegrir a imagem do MOVE
e a persuadi-lo a abandonar o Movimento com promessas incumpríveis e a
desrespeitar as regras mais elementares do jogo político democrático?
Fui eu?
Ora, façam-me um favor…
Estas patranhas não podem legitimar a qualquer preço
a estupidez e a arrogância de quem as escreve, até porque V.Exas., pelos
vistos, de todo não me conhecem.
Ou então vêem-me à vossa própria imagem e semelhança,
e isso eu não lhes admito, simplesmente porque eu não sou como vocês.
De qualquer maneira, deixem-me que vos conte um
pouco da minha “estória”, houvesse outros com igual coragem para o fazer.
Entre família e amigos, costumo dizer em tom de brincadeira
que nasci no primeiro esquerdo do número oitenta e um da Rua Carvalho Araújo,
em Ourém (literalmente, porque foi lá precisamente que eu nasci), já lá vão
quarenta e três anos de vida.
Na vizinhança, e que me perdoem todas as outras,
havia, por exemplo, a família Verdasca, a família Jácome, a família do senhor
Catarino da Marina, do senhor Costa e da D. Fernanda, ou do senhor Guido e da
Dª Júlia, estes uns queridos que se davam ao trabalho de vir propositadamente
de Lisboa a Ourém pelo Natal, só para vir oferecer a alguns meninos do “bairro”
uma pequena lembrança: um livro dos “Famosos 5”!
V.Exas. sabiam desta “estória”?
Foto: Blog iNovOurém |
Depois, julgo que V.Exas. também não sabem que é com
“cagança” e um enorme orgulho que vos digo que tive como avós adoptivos, pelo
lado materno, o Senhor Cândido Afonso Machado e Costa e a Senhora D. Isabel de
Barros e Sá Pereira Machado, cidadãos ilustres da cidade e do concelho de Ourém,
pessoas honestas e de uma verticalidade de carácter e sentimentos acima de
qualquer suspeita (de cuja vida e obra, aliás, tenho falado não raras vezes
neste blog, como por exemplo aqui), e com os quais aprendi muito sobre valores
universais e humanistas.
E com quem aprendi a ser humilde e a respeitar os
meus semelhantes.
Sabem V.Exas. do que falo?
V.Exas. acham que eles me ensinaram coisas boas ou
más?
E acham que um puto com sete, oito anos, que passa
toda a infância a ver praticar o bem, que aprende a ver os seus familiares e os
que o rodeiam a agir com bondade, com tolerância, com paciência, e a ter a
maior dignidade e correcção em todos os seus actos, acham que um puto destes
fica com a sua mente deturpada à nascença, que desata para ai a armar-se em
gangster na maioridade e que não fica intelectualmente bem formado desde o
início?
Digam lá sinceramente, no fundo acham mesmo que sim?
E também sabiam que os meus avós adoptivos acolheram
meninos e meninas austríacos que fugiram da violência da Segunda Guerra Mundial
e do Holocausto?
Acham que esta “estória” não me influenciou
minimamente?
Foto: Blog iNovOurém |
V.Exas. sabiam também que um dos grandes amigos da minha
família era o Senhor Diogo Azeredo Pais, mais conhecido simplesmente por
“Inspector Pais”? (ver aqui).
E sabiam que ele me pôs a ler Ortega y Gasset aos
doze anos?
E a ler Alexis de Tocqueville?
E também sabiam que ele me levava inúmeras vezes a
sua casa para me mostrar a sua imensa e rica biblioteca?
Local onde passámos horas a fio a descobrir “livros
interessantes” (como ele lhes chamava) para eu ler, como por exemplo os grandes
clássicos do Direito Português, isto por volta dos catorze, quinze anos, razão até
pela qual mais tarde segui direito, tal foi o bichinho que ele me pegou?
E sabiam V.Exas. que os adultos passavam serões infindáveis
a perscrutar a política por todos os lados e feitios, e que eu, modéstia à
parte, observador interessado e atento, os ouvia sempre, com humildade e
bastante motivado?
Não sabiam?
V.Exas. acham que conviver e ouvir as ideias, por
exemplo, do professor Carlos André, faz mal a um jovem de doze, catorze anos?
Ainda tenho na memória aquelas idas a caminho de
Santarém, o meu pai ao volante, o Alberto Figueiredo ao lado, e eu e o
professor Carlos André atrás, ele ora intervindo em amenas discussões políticas
com os parceiros da frente, ora passando as vistas pelo jornal!
Sabiam V.Exas. que eles sempre me disseram mais ou
menos isto: “ouve e aprende João, isto faz-te bem e é fundamental para a vida!
Depois, há as “estórias” dos leilões.
V.Exas. recordam-se que aqui há uns anos valentes
havia a tradição em Ourém – que ainda hoje se mantém noutros moldes – de
realizar leilões pelos bairros da então denominada Vila Nova de Ourém a favor
das mais diversas entidades?
Posso dizer-vos que me recordo, por exemplo, do
leilão do Bairro, do leilão dos Bombeiros ou do leilão da Rua Santa Teresa.
E isso foi há já muitos anos!
E sabem V.Exas. por que me lembro disto tudo?
Porque os produtos que iam a leilão eram, religiosa
e literalmente, angariados porta-a-porta, principalmente naquela altura por
senhoras oureenses e outros voluntários que, de forma abnegada e mecenática,
calcorreavam toda a freguesia para juntar o maior número e toda a espécie
possível de produtos, desde o azeite, a massa ou o arroz, passando pela loiça e
atoalhados, até aos produtos doces e de pastelaria, cujo expoente máximo nesta
categoria eram os bolos da família Jácome, que faziam as delícias e subiam a
parada assim que eram sujeitos a licitação, de tão bons que eram.
A minha mãe chegou até a ficar uma vez com um, que
era simplesmente divinal!
Claro que a minha mãe e eu estávamos no grupo desses
voluntários, devia ter eu uns oito, dez anos, e ainda me lembro de andar na
ambulância “pão de forma” dos bombeiros de Ourém a recolher os alimentos que
eram guardados pelos voluntários em suas casas, e de um dia termos parado na
casa do saudoso Joaquim da Silva para enchermos a dita ambulância para o leilão
dos bombeiros.
Eu, até ajudava a montar as bancas para os leilões e
tudo.
Éramos todos muito amigos, e dávamo-nos todos muito bem.
Outra das voluntárias era a D. Natália Jóia, ela sabe
bem do que falo e também se deve lembrar destas “estórias” todas.
Como é que V.Exas. classificam isto?
Escravatura e exploração de menores?
Foto: Blog iNovOurém |
Mas, também não posso deixar de apresentar a V.Exas.
um grande amigo meu, o Jorge Serrano, é filho do meu padrinho de baptismo e
conhecemo-nos há quarenta e três anos, justamente a minha idade, já que ele, felizmente
e contra todas as expectativas, já vai a caminho dos cinquenta e um!
O Jorge é portador de Síndrome de Down, ou Trissomia
21, e foi com ele que desde muito cedo aprendi que apesar das suas diferenças
físicas, o Jorge tinha sentimentos iguais aos meus, respeitava-me tal como eu o
respeitava a ele, amava a sua família tal como eu amava a minha.
.
Era, acima de tudo, uma pessoa doce e de sentimentos
puros, com uma inegável sensibilidade e uma nobreza de carácter imaculado.
Nisso, não era diferente, era igual a tantos outros
meninos que conheci.
E isso ajudou-me a crescer, a compreender melhor o
mundo e as relações que se estabelecem entre as pessoas.
Mais do que isso, ajudou-me a compreendê-las e a
respeitá-las nas suas diferenças.
V.Exas. acham que eu seria insolente ao ponto de
criticar a instituição que acolhe o meu grande amigo Jorge?
Se o pensam, são tolos…
No campo escolar – área tão importante para
conhecermos e avaliarmos as qualidades de alguém –, posso dizer-vos que fiz o
meu percurso como qualquer menino normal.
Passei pela primária, onde tive muitos quatros e
cincos, fiz os dois anos do Ciclo – a então chamada Preparatória – e cumpri
mais seis anos no Liceu, perfazendo tudo doze anos.
Era isso que o “Sistema” esperava de mim, e
esforcei-me por cumpri-lo.
Aliás, felizmente ainda andam por aí muitos e bons colegas
e professores que poderão comprová-lo, como os colegas Valentim Silva e Orlando
Cavaco, ou o professor José Fernandes, ou ainda o professor Marques Pereira,
que me deu 17 a português, já para não falar na minha Directora de turma, a
professora Bela Maria, de Coimbra, que era um encanto.
Todos eles podem atestar o quanto era um aluno
dedicado e, segundo eles, com valores e até um pouco inteligente!
E se as professoras Maria José Heitor (1ª e 2ª
Classes) e Helena Paisana (3ª e 4ª Classes) ainda cá estivessem, não tenho
dúvidas que teriam lindas “estórias” para vos contar acerca da minha humilde, mas
honesta pessoa.
Depois, pelos meus próprios meios e sem cunhas,
segui para a Universidade onde estive mais cinco anos (disse bem, cinco anos),
tendo tido aulas presenciais de segunda a sexta-feira, as quais obrigaram a
muito estudo, mas sem direito a qualquer equivalência!
Mais uma vez, cumpri tudo o que me foi exigido pelo
“Sistema”, acabando por concluir a Licenciatura em Direito, com direito a
canudo numa lata redonda e tudo, mais Diploma, tudo à moda antiga!
Posteriormente, acabaria também por completar o III
Curso de Pós-Graduação em Direito do Trabalho, não na Universidade Independente
ou na Lusófona, mas no Instituto de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito
da Universidade de Lisboa, cujo coordenador foi o Professor Doutor Pedro Romano
Martinez.
Curiosamente, ou talvez não, a verdade é que fui um
dos melhores do Curso.
Ah, e a tese, fi-la de raiz, não a plagiei.
Simultaneamente (e por conta própria, ou seja,
aquilo a que chamo “autoformação”), estudei durante três anos consecutivos
Gestão de Empresas, através de dezenas de livros que comprei (na Amazon.com) da
melhor bibliografia internacional disponível sobre o tema, desde os grandes
clássicos e autores norte-americanos sediados em Harvard (mas não só), passando
pelo Brasil (onde, por exemplo, encontramos das melhores traduções), acabando
na Europa, Portugal e até mesmo na Ásia.
Foram três loucos anos, em que sacrifiquei muito a
minha família e o meu trabalho (pois nessa altura já estava a trabalhar), mas,
creiam-me V. Exas., valeu a pena, já que foram anos infinitamente
enriquecedores e dos quais guardo uma doce memória.
Se somarmos a isto tudo, toda a formação
profissional certificada que fui fazendo ao longo dos anos (e que hei-de
continuar a fazer, assim a disponibilidade, a carteira e a lucidez o permitam),
então dou por mim a constatar que já são quase quarenta anos agarrado aos
livros.
E que bom que tem sido…
Agora, acham que isso não me tem ajudado a
descobrir-me e a melhorar enquanto pessoa?
Pois então se V.Exas. acham que tudo isto não são
qualidades suficientes, então é porque acham certamente que as qualidades dos
Relvas e quejandos são muito melhores!
E sobre esta matéria, estamos conversados.
Face a tudo isto, é altura de perguntar: quem pensam
V.Exas. que são para me dar lições de moral nestas matérias?
E com que autoridade moral se dirigem à minha pessoa
nos termos abjectos em que o fizeram?
Acham que se disserem mil vezes uma mentira, ela se
transformará numa verdade absoluta?
Acham que a interpelação pública de Setembro de 2013
já não foi suficiente para pôr a nu o vosso verdadeiro carácter?
Por que raio a D. Alexandra Silva me falou tão bem
em Junho nas Festas da Cidade, e poucas semanas depois me dirigia tão escabrosa
interpelação pública?
Passou o Verão a ler o meu Blog?
Era o que mais faltava, como se a senhora não
tivesse mais nada para fazer.
Ou como se não tivesse sido obrigada a emprenhar
pelos ouvidos…
Será que os estimados leitores acham que não existem
aqui coincidências a mais, e que tudo isto é obra do acaso e um valente
espírito santo de orelha?
Não se iludam…
E sobretudo acreditem que isto não passou de uma
golpada de baixa qualificação para, em período eleitoral, e quando já não podia
defender-me antes das eleições, criar a ilusão na opinião pública de que havia
aqui uma guerra com os Bombeiros, facto que objectivamente nunca aconteceu.
Só que, como costumo dizer, trata-se,
claramente, de um golpe baixo e sujo, mas os golpes baixos e sujos costumam
ficar com a minudência de quem os pratica.
E o que dizer de uma imprensa escrita que dá o dito
pelo não dito, e que se dá ao desfrute ignóbil de censurar a participação
política do MOVE, como aconteceu lá para os lados de Fátima?
E em Ourém, o que dizer de um jornal que, pura e
simplesmente, não permite colunas de opinião nas suas páginas?
Os estimados leitores não acham estranho que as
colunas de opinião tivessem desaparecido do jornal Notícias de Ourém?
Onde se incluía a “Coluna do Meio”?
Não é aquele jornal património dos pobres da
freguesia de Nossa Senhora da Piedade?
Ou será que não é antes um instrumento político ao
serviço do “Sistema”?
Resta-nos olhar com nostalgia para o pensamento dos
seus fundadores, e lembrar um escrito que fizeram perdurar para toda a
eternidade:
“[…]
Havemos de procurar, através de tudo, não fazer deste jornal um órgão de
qualquer grupo ou partido, mas um órgão de todos e para todos. As suas colunas
estão ao alcance de toda a gente, bastando para isso que sejam honestos os seus
propósitos, que sejam correctos os seus
escritos”.
(in “Alma
dum povo – os 75 anos do Notícias de Ourém, página 13).
Por outro lado, V.Exas. acham que são cada vez mais
raras as pessoas disponíveis para o trabalho de voluntariado, principalmente de
cariz associativo e comunitário?
E acham que ninguém, por mais nobre e solidária que
seja a causa, está disponível para ser enxovalhado na praça pública?
Não é precisamente isto que se tem passado comigo desde
o dia 20 de Julho de 2013?
Mas então, não foi para contrariar esta tendência
que eu aceitei o amável convite das forças vivas da Lourinha para me candidatar
à Assembleia Geral da sua prestimosa associação?
E não foi também com o intuito de contribuir para a
Causa Pública?
Será que V.Exas. pensam que foi sob reserva mental
que eu aceitei, por exemplo, o convite da Universidade Sénior de Ourém para colaborar
na sua honrosa missão de proporcionar aos mais idosos quer o acesso ao
conhecimento e às aprendizagens, quer a oportunidade de se valorizarem enquanto
pessoas?
Será que V.Exas. pensam que, para além de vocês, não
existem mais pessoas no mundo capazes de aceitar os desafios apenas por uma
questão de entrega humanitária e de solidariedade?
Chama-se a isto gente frouxa, sem escrúpulos e com
que pouco se pode contar?
Tal como escrevi noutra parte, é sempre importante
contarmos com a colaboração de gente abnegada que não vê inconveniente em dar
parte do seu conhecimento a quem dele mais precisa.
E estar nesta leva de gente descomprometida e com
verdadeira paixão naquilo que faz, e que colabora com a sua terra, faz-me
sentir alento e ainda mais desprendido para transmitir tudo aquilo que fui
aprendendo ao longo da vida.
Com mil diabos, será isto proibido na minha terra?
Ou será que isto é proibido por tão triste gente?
A verdade é que quem não se sente não é filho de boa
gente, e se alguém pensava que eu iria intimidar-me e não me iria defender,
então enganou-se redondamente.
É, por isso, que eu nunca me vergarei a ameaças ou
chantagens, nem nunca me deixarei trair pelos valores da verdade e da liberdade
em que acredito.
Quem é a PIDE?
Marcelo Caetano, apesar de tudo, ainda escreveu umas
coisas giras sobre ciência política, que vale a pena perdermos um pouco do
nosso tempo a ler.
Se tivessem feito o trabalho de casa, V.Exas. sabiam
que a PIDE não é uma pessoa em concreto, é tudo isto junto, é o chamado “Sistema”!
E que culpa tenho eu que as carapuças vos sirvam?
Viva a Liberdade, Viva a Democracia, Viva Portugal!
Ourém, 27 de Janeiro de 2015
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