O texto que se segue foi publicado na Edição de 18 de Abril de 2014 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.
"Coluna do Meio
Pontos de vista
Em texto publicado
nesta “Coluna do Meio” no passado dia 21 de Março, e intitulado “O mundo
rural”, elogiei de forma incisiva a iniciativa da Feira dos Produtos da Terra,
que já decorre pelo terceiro ano consecutivo, e que é – como todos sabem – uma
actividade levada a cabo pela empresa municipal “Ourémviva”, o mesmo é dizer
pela Câmara Municipal e pelo PS. Fi-lo, na convicção de que, sendo o nosso
concelho predominantemente rural e agrícola, essa iniciativa constitui uma
mais-valia para os produtores locais, permite promover e dar visibilidade aos
seus produtos, estimula os sectores de actividade que se relacionam (directa ou
indirectamente) com a agricultura, para além de permitir o desenvolvimento, não
só (e apenas), do turismo cultural e religioso, mas também do turismo rural, de
natureza, gastronómico e vinhos – áreas onde, de resto, se tem tido pouca ou
nenhuma visão estratégica nos últimos anos, talvez porque tenhamos outras
“jóias da coroa” mais importantes com que nos preocupar. Sou daqueles que vê
Fátima como um pólo agregador, e não o contrário, mas podemos e devemos apostar
noutras complementaridades.
Acontece que as minhas
palavras parecem ter servido novamente de pretexto para o meu colega da coluna
da direita, João Moura, me dirigir mais um “mimo” na sua crónica do passado dia
4 de Abril, aqui neste mesmo jornal. Desabafava ele um rol de propostas que
tinha para o concelho de Ourém, e eis senão quando, lá quase no fim e de uma
forma completamente fora de contexto e inusitada, manda-me um miminho e
escreve: “deixo também a oportunidade ao colega da coluna do lado de fazer
furor com a feira do gado: 3 galinhas, 0,5 vacas e 3 cabras anãs (números com
base no orçamento municipal)”. Bom, digo-vos que se o caso não fosse sério, até
dava vontade de rir, mas não é mesmo o caso.
Na verdade, João Moura
não está a ser coerente com aquilo que pensa e escreve, senão não teria
desabafado no passado dia 24 de Fevereiro em termos de confessar que até lê (ou
perde tempo a ler) alguns textos enfadonhos de certos colunistas deste jornal (leia-se
a “Coluna do Meio”), ficando até satisfeito – continuava ele a desabafar – por
verificar que um dos seus textos neste periódico “tenha trazido inspiração
colorida a alguma gente cinzenta”. Bom, as palavras são dele, não minhas.
Certo, certo é que João Moura continua a ler os meus textos enfadonhos, e até
me dá honras de falar com destaque na Feira dos Produtos da Terra (aquele
evento a que ele chama feira do gado e o reduz a meras décimas).
Tal como tive
oportunidade de dizer naquele texto de 21 de Março, “não vale a pena
prometermos mundos e fundos só para eleitor ver em períodos eleitorais, se
depois não damos consequência ao que prometemos e, ainda por cima, desdenhamos
das propostas apresentadas pelos outros”. É isso, precisamente, o que João
Moura está a fazer. Para quem proclamou (ou apoiou) na última campanha
eleitoral que havia chegado a hora do norte (do concelho), é no mínimo estranho
que logo João Moura, engenheiro destas lides, se insurja tanto sobre a “feira
do gabo” e as coitadas das cabras anãs, por sinal até bem bonitas e lustrosas.
Só posso concluir, portanto, que seja por a iniciativa partir do PS. Ora, pela
minha parte, continuo a ser perfeitamente livre para poder decidir se esta ou
aquela proposta é boa ou não para o meu concelho. Não tenho pejo absolutamente
nenhum em apoiar qualquer proposta, seja da direita ou da esquerda, do PS ou do
PSD ou da CDU, ou mesmo do MIRN, contanto que seja útil, proporcional ao orçamento
e com visão de futuro. Aqui tens, pois, caro João, de mão beijada, na primeira
pessoa e de forma transparente e sincera, mais um excelente pretexto, espero
que não cinzento, para a tua próxima crónica, mas, por favor, vamos discutir
para o futuro, nada de “pintelhos”, e também sem medos, porque a PIDE, essa,
apesar de ainda andar por aí, no que depender de mim já pouco ou nada tem a
fazer diante da força da liberdade readquirida naquele tal já longínquo Abril"!
O texto que se segue foi publicado na Edição de 11 de Abril de 2014 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.
"Coluna do Meio
Good Morning Madam
Algumas pessoas têm-me
perguntado quando é que eu conheci o Dr. Vítor Frazão, e quais as
circunstâncias em que decorreu esse encontro. Pois bem, a pequenina história que se segue é sobre o dia em que o
conheci pela primeira vez.
Todos
nós temos as nossas lembranças, e esta – bem a propósito –, constitui para mim
uma delas. O curioso, é que julgo que ele não faz a mínima ideia de quando e
como foi esse encontro, que até hoje me marcou, e é por isso que hoje decidi
partilhá-la aqui convosco.
Corria
o ano de 1978 e, nessa altura, para qualquer menino ou menina do concelho de
Ourém, estudar em Fátima, no Colégio de São Miguel, era sinónimo e uma
referência de qualidade – e ainda hoje o é, como todos sabemos. Não tive a
sorte, porém, de o frequentar, mas nem por isso deixei de estudar em boas
escolas e ter professores igualmente dedicados e competentes a ensinar. A
história passou-se, em parte, com o meu irmão, três anos mais velho, e, esse
sim, foi um dos privilegiados de por lá ter passado.
Certo
dia daquele ano, que não sei precisar, dou por mim com toda a família a caminho
de Fátima, num grande reboliço e numa enorme ansiedade, porque era chegado o
dia de matricular o Armando no Colégio.
Já à
entrada, uma das imagens marcantes que retive foi o brilho do chão
impecavelmente lavado, que reflectia tudo quanto ali passasse. Senti o silêncio
do ambiente e a ordem que o envolvia, o que, para um miúdo de apenas sete anos,
me transmitiu uma sensação não só intimidante, mas ao mesmo tempo
reconfortante. Era como se tivéssemos entrado num local de culto e
verdadeiramente enigmático.
Devagar,
para não escorregarmos naquele piso imaculado, dirigimo-nos ao que presumo ter
sido a secretaria, não sem antes um cavalheiro, muito educado, nos ter
gentilmente indicado o caminho.
Depois
de tratarmos de todos os assuntos que ali nos haviam levado, e já à saída, toda
aquela calma do Colégio apenas foi “interrompida” com os passos de uma
professora, que parecia deslizar naquele soalho brilhante e encerado, e que se
dirigia para a sala de aulas onde os alunos já a esperavam. Pela fresta da
porta, retenho na memória aquele momento em que todos os alunos, de forma
coordenada, se levantaram e, num coro impecavelmente sincronizado, exclamaram:
“Good Morning Madam”!
Por
mais que o tempo passe pela minha memória, nunca hei-de esquecer aquele senhor
extremamente simpático e gentil que nos deu as boas-vindas, nem aquela
professora de inglês que parecia deslizar naquele soalho brilhante e encerado...
Nota de Rodapé: este
texto é dedicado, em geral, a todos os estimados leitores, e, em especial, ao
Dr. Vítor Frazão. Uma dedicatória especial é também dirigida à Ana Oliveira, à
Carolina Reis, à Cátia Silva, ao Hugo Major, à Pauline Ferreira, ao Pedro
Capitão, ao Pedro Manso, ao Renato Lopes e à Tânia Lourenço, todos eles colegas
na Formação Pedagógica Inicial de Formadores promovida pela Nersant, e que se
encontra neste momento a decorrer em Fátima (Grupo de Março/Abril 2014), e
ainda à estimada formadora, Paula Marina. A todos eles um bem-haja por serem
quem são, e por tornarem esta formação ainda mais agradável e produtiva. E a
ti, Pedro Capitão, o impulsionador desta ideia, aqui fica o meu sincero
agradecimento".