sábado, outubro 25, 2014

A bagunça

O texto que se segue foi publicado na Edição de 10 de Outubro de 2014 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.

"Coluna do Meio
A bagunça
Após este curto período de férias e de uma pausa para café, brindo hoje os estimados leitores com a esperança de que tenham tido um bom regresso, tenham carregado convenientemente as baterias e se preparado para voltar à carga e chocar com a triste e enfadonha realidade que nos cerca.
É verdade, o mundo e o país vão de mal a pior, mas, o que é mais grave e inquietante, não se vê nenhuma alternativa para sair deste impasse em que nos encontramos. Na Europa é o que se vê. Depois dos chamados países do sul, apelidados erraticamente de PIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), depois de terem servido de laboratórios das alegadas grandes potências europeias e da especulação económico-financeira, de entre as quais a Alemanha à cabeça, eis senão quando é agora a vez dessas tais grandes economias atravessarem um período de estagnação ou mesmo de recessão (vejam-se os casos “emblemáticos” da França e da própria Alemanha, quem diria…). Para além disso, não se vê réstia de discussão em torno das grandes questões estruturantes do projecto europeu, todas elas a marcar passo, seja por inércia das actuais lideranças políticas europeias, seja por pura incompetência, seja ainda porque isso lhes serve de feição e lhes aguça os interesses.
Isto, para já não falar na questão dos “poderes autonómicos” da Catalunha e da Escócia, que são fenómenos que ainda estão por demonstrar no actual quadro da União Europeia, cujo assunto me merece, por isso, algumas reservas e uma certa prudência, ou também na questão da emergência das facções da extrema-direita (de que o caso francês é apenas um exemplo), ou ainda nas questões da fome ou da ameaça do fanatismo religioso e do terrorismo à escala global.
Estes fenómenos repercutem-se pelo mundo e por toda a Europa, e, como é evidente, alastram-se a pequenos países mais vulneráveis como Portugal. A situação agrava-se ainda mais quando nestes países se continua a viver a braços com a pequenez forçada por uma pseudo-elite deslumbrada, subserviente e provinciana.   
Pensarmos nós que já tínhamos visto tudo, e “catrapum”, somos sacudidos com nova intempérie, desta feita a promessa de que a promiscuidade absolutamente criminosa que existe, já não sei se entre os negócios e a política ou se entre a política e os negócios, vai finalmente acabar no nosso país! Uau, parece que, de uma vez por todas, vamo-nos ver todos livres dos montes de lixo e de sucata que nauseabunda por aí. O problema, bem o problema é que a política está hoje transformada num gigantesco e mal cheiroso “negócio”, e ao acabar-se com o “negócio” acaba-se com a própria política! É como se eu acabasse com aquilo que me sustenta! Era seguramente o fim. Custa-me a crer é que ainda haja alguém que acredite numa idiotice destas e caia nesta esparrela.
Enquanto o pau vai e vem, como se costuma dizer, é confrangedor ver a forma resignada com que muitos portugueses estão a encarar (talvez) um dos momentos mais graves da história política, económica e social do nosso país. O tempo não está, todavia, para resignações nem bagunças. Oxalá quando decidirmos agir não seja já tarde demais, e precisemos que seja a Europa a vir-nos salvar, ou então um qualquer Dom Sebastião, um intrépido paladino travestido de Salazar que vista a pele de cordeiro e se autoproclame Salvador desta tão ilustre Pátria Lusitana".

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Custom Search
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...