Folhas Soltas
O texto que se segue foi publicado na Edição de 23 de Maio de 2014 do Jornal Notícias de Ourém, o qual constitui a sequência de textos que irão sendo ali publicados e aqui transcritos na íntegra.
"Coluna do Meio
Folhas Soltas
O título do texto desta
semana – “Folhas Soltas” – poderia muito bem ser um título de um livro, mas, ao
invés, tem a ver com os meus tempos na Escola Secundária de Ourém e com aquele
ano em que o professor Manuel Dias, de Jornalismo, incentivou toda a turma a
criar o jornal do liceu. Vai daí, eu, o Valentim Silva, o Jorge Neto, o Luís Filipe
Cabral e o Paulo Gonçalves desenvolvemos um trabalho de grupo (10º Ano, turma
D1, ano lectivo de 1987-1988) e criámos o “Folhas Soltas”, uma brochura
artesanal e minimalista (cujo único exemplar, presumo, fui descobrir nos
confins do meu arquivo), criada a partir de folhas A4, previamente
dactilografadas em máquinas de escrever de teclado “AZERT”, depois recortadas e
coladas em folhas de tamanho A3, para finalmente serem fotocopiadas e distribuídas
por todo o liceu. Esta miscelânea de técnicas e colagens, e de criatividade,
deu origem ao Jornal “Folhas Soltas” e valeu, pelo menos para mim, uma nota bastante
razoável no final do ano. Aqui ficam, resumidamente, duas das notícias que por
lá apareceram naquele ano de 1988.
1. «Estudantes
universitários sabem mal português, indica um estudo sobre recém-chegados às
universidades. Segundo um recente inquérito efectuado pelo sindicato dos
professores na cidade de Setúbal, os mais de mil alunos inquiridos não
atingiram o nível mínimo exigível após 12 anos de escolaridade, no que se
refere ao domínio da expressão escrita. Este estudo baseia-se num inquérito a 1412
alunos do primeiro ano de 14 instituições do ensino superior de 12 cidades do
país, todos com cadeiras na área linguística. Os alunos tratados pertencem ao
conjunto dos que conseguiram entrar no ensino superior – presumivelmente estão
entre os que obtiveram maior sucesso no ensino secundário. As perguntas
incidiram sobre áreas consagradas nos programas de português do ciclo
preparatório e secundário, mas, mesmo assim, verifica-se que os alunos não
reconhecem unidades, nem tipos de construção, como pronomes relativos e orações
relativas. Os resultados do inquérito parecem mostrar que não se atingiu um
domínio da língua que permita reflectir sobre ela ou analisá-la. A maior parte
dos alunos não achou o inquérito particularmente difícil e 58 por cento classificaram-no
de dificuldade média, enquanto 21 por cento de grande dificuldade. As regiões
do país que maiores percentagens conseguiram nos testes foram Coimbra
(Faculdade de Letras) e Aveiro (Universidade) com 61,4 e 60,9 por cento,
respectivamente. Mais abaixo ficou Lisboa (Faculdade de Letras e Universidade
Nova) com 55,7 por cento. Perante estes resultados, ocorre perguntar: foram os
conteúdos programáticos cumpridos durante os 12 anos de escolaridade? O que é que
falhou na relação ensino-aprendizagem a que seja imputável o “esquecimento” de
conceitos básicos sobre a língua? (este trabalho foi realizado com base numa
notícia do “Diário de Notícias”)».
2. «A criminalidade em
Portugal. O crime já se torna hábito da vida em sociedade, do dia-a-dia de cada
povo, de cada nação. Também em Portugal o crime se desenvolve de forma
semelhante a outros países europeus. Mas, de certa forma, não podemos negar que
os há, mas também não podemos afirmar que Portugal se equipare a outros países.
Podemos dizer que no nosso país o crime mantém-se pelas pequenas zangas
familiares, ou seja, assuntos de pouco interesse e comuns a todas as
sociedades. É certo que crimes acontecem, temos aí um exemplo recente e
marcante, evidenciando a violência que existe nas pessoas: o caso do Osso da
Baleia, violento e até mortal. Todos nós seguimos este trágico incidente com
muito interesse, não por se tratar de mais um mero problema para a história
deste país, mas sim pelo seu “preço”, pela sua grande preocupação, que marcará
certamente durante muitos anos a vida de todos nós. Quando um homem mata 7
pessoas e é condenado a menos de três anos por cada vida ceifada, algo não
corre de feição…»".
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