quinta-feira, janeiro 30, 2014

Uma questão de consciência

Apenas uns breves comentários em relação a dois temas que têm sido discutidos ao longo das últimas semanas, um sobre a co-adopção e o outro sobre as praxes académicas.

a) A respeito deste último, e para começo de conversa, devo dizer que as praxes académicas nunca me seduziram, e, talvez por isso, nunca tenha sido “praxado” nem no liceu, nem na universidade. Se, no liceu tinha o “chapéu protector” do irmão mais velho, já na universidade tive que me virar sozinho. Como? Simplesmente faltando à primeira semana de aulas. Mais tarde assisti, porém, a algumas praxes, o que me reforçou ainda mais a ideia de que aquilo seria uma forma completamente “pateta” de fazer a integração de um aluno numa universidade. Por comparação ao sector empresarial, dizia-se há dias, e com razão, que, por essa ordem de ideias, qualquer processo de integração de um novo trabalhador numa empresa teria forçosamente que obedecer a este “ritual”.
É também por isso que os acontecimentos da praia do Meco vieram adensar ainda mais a minha desconfiança. Vêm depois as excepções, com a Universidade de Coimbra à cabeça a reclamar o estatuto de “cidade secular da praxe”, e onde os rituais académicos, por serem tão ancestrais, devem permanecer intocáveis. Este tema lembra-me um outro, o das touradas de morte, e as “excepções de Barrancos”, e depois outros e ainda outros… numa roda que nunca mais acaba.

b) Em relação ao referendo sobre a co-adopção, devo dizer que não fiquei particularmente satisfeito ao ver a Deputada social-democrata e fatimense, Carina João, a votar favoravelmente na Assembleia da República a proposta de referendo sobre esta temática, ainda que acompanhada de uma declaração de voto justificativa dessa sua tomada de posição.
Talvez valha a pena recordar que os deputados exercem livremente o seu mandato (nº 1 do artº 155º da Constituição da República Portuguesa), pelo que me choca tremendamente que os partidos políticos imponham aos seus deputados disciplina de voto em matérias do foro individual e da consciência de cada um, como o são aquelas que dizem respeito à co-adopção. E mais, choca-me ainda que os deputados sirvam apenas para desempenhar o papel de meras “correias de transmissão”. Encaro o papel de deputado como devendo obediência às grandes linhas do partido através do qual foram eleitos (como acontece, por exemplo, nas votações do orçamento), mas isso não pode obstaculizar a que os deputados pensem por si, pelas suas cabeças e com a sua consciência, em matérias de que a co-adoção é apenas um exemplo.

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